No universo logístico do segmento alimentício, a relação tempo e
dinheiro tem ainda mais impacto nas receitas das empresas devido à
perecibilidade. O controle para as vendas dos produtos mais antigos e
prestes a vencer foi uma alternativa criada no segmento com objetivo
de reduzir perdas com alimentos que envelheciam dentro de armazéns
por conta de desequilíbrio entre produção, transporte e vendas.
Como alternativa a esse cenário, os produtos com validades curtas
passaram a fazer parte dos catálogos de vendas para uma saída mais
rápida. Porém, essa venda exclusiva de produtos com preços atrativos
e descontos que chegam até a 80% do valor original passou a ser um
problema quando surge um mercado voltado a esse segmento.
Naturalmente, o público-alvo desse tipo de produto está localizado
nos subúrbios e dentro de áreas conflagradas, como comunidades que
sofrem influência do tráfico de drogas e possuem menor poder de
compra. Por esse prisma, realizar entregas nessas regiões oferece
maiores riscos às tripulações e cargas e aos veículos, além da
exposição das marcas, pois não há controles desses produtos após
serem entregues aos estabelecimentos.
Os vendedores, por sua vez, passaram a enxergar uma oportunidade para
driblar a falta de um preço competitivo e, com isso, esperam os
produtos mudarem para a faixa de preço mais adequada para a realidade
atual do país. Como resultado, os armazéns perdem giro de estoque e
passam a ficar lotados, aumentando os custos e o volume de veículos
de cargas.
Muitos compram para consumo próprio, porém uma boa parte revende em
trens urbanos e metrôs. Não há nada de errado em revender produtos
com prazo de validade próximo a expirar, porém a falta de um olhar
mais atento por parte das empresas produtoras é deixar de perceber a
nocividade desse problema: muitos clientes estão deixando de comprar
de quem produz para comprar neste mercado paralelo.
A informalidade, nesse sentido, inicia um ciclo que prejudica a
grande massa de clientes que compra com preços definidos pelas
companhias, e as marcas, principalmente quando se trata de produtos
frigorificados, que ficam expostos e armazenados em condições
inadequadas. O comércio formal sofre ao competir com a informalidade,
uma vez que um paga impostos, que pesa no final das contas, enquanto
o outro lado não sofre nenhum tipo de fiscalização.
Deixar de vender não é uma solução, mas limitar a venda é algo a ser
pensado, pois o problema não se trata somente de escoar um estoque
envelhecido, mas sim em pensar em não criar um ciclo vicioso que, no
final das contas, será igual ou pior que os custos com incinerações
ou descartes em aterros sanitários.
Realizar acompanhamentos periódicos de estoques, influenciar ações de
vendas e ter controles de previsibilidade são ações que reduzem a
probabilidade de estoques envelhecerem e reduzem a exposição das
marcas a esse comércio mais atrativo.
*Consultor sênior na ICTS Security