Temos em 2018 uma campanha política sanguinária, vil, maligna e canalha, na qual gestos e palavras de ódio e desconstrução são musas. Onde estamos? O que somos? Para onde vamos? Nenhum aplicativo amainou a difusão de mentiras descabeladas, suposições mirabolantes e ataques desvairados nas redes sociais. Fala-se e se ouvem desconsiderações absurdas, distorções, elucubrações e sordidez. Calúnia, injúria e difamação são protagonistas. As qualidades e as defesas ficam esquecidas. Impossível falar delas. Ninguém quer ouvir, apenas desmoralizar o candidato e, de quebra, também o eleitor. Os ataques ignoram a civilidade, mostrando uma ferocidade desavergonhada.
Quando a difamação irresponsável e a agressividade selvagem dão o tom, todos perdem. Vemos, lemos e ouvimos as mais estapafúrdias ilações manipuladas e divulgadas como fatos sólidos. A sujeira envergonha e deprime. Quanto mais decidido está o eleitor, mais virulência receberá nos xingamentos do oponente. Inútil, por ser o mesmo que palestrar a convictos convertidos. Disseminou-se a estupidez. A propaganda eleitoral é ainda mais ferina.
Dialogar com fanáticos é o mesmo que jogar pérolas aos porcos. Quem são os porcos? Todos os que estão do outro lado. São burros e iludidos, ou então, estão ganhando algo para defender o indefensável. A argumentação mais forte é: vai estudar! Mas quem discute se sente doutor no tema.
Entre os candidatos, todos humanos, alguns descontrolados, há erros e acertos em seus currículos. Cada eleitor escolherá quem ele quiser, e que lhe atenda os interesses, mas não deverá se esquecer da coletividade. Enquanto há quem ache todos ruins, juntamente com seus programas de governo, há paixões desenfreadas, louvações e santificações.
A desconfiança é outra personagem atenta, que duvida da notícia falsa, mas há quem extrapole e suspeite, de forma paranóica (reforçam os especialistas), da lisura do pleito. Para justificar uma possível derrota, acusam o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas.
O eleitorado está exaurido e os candidatos sem forças para mais viagens, maratonas, ciladas, agressões verbais e físicas. Precisam ter alma apaixonada para suportar tantos obstáculos. Acabam adoecendo. Muitos insultos de baixo calão. Amizades se rompem, porque amigos e parentes defendem posições opostas. Ninguém permite ao outro falar o contrário do que idolatram. Ofendem-se, agridem-se, estapeiam-se. Ainda há quem queira converter aos demais no último minuto. Mesmo com argumentos fracos. Engana-se, chove no molhado, prega no deserto. Mesmo os silenciosos estão de cabeça feita. Já têm suas convicções, ainda que baseadas em informações excessivas e contraditórias. Quando uma argumentação rasteira, primitiva e até ridícula é usada para reversão, o ouvinte, mesmo calado, debocha por dentro. Nas redes sociais é preciso desconsiderar os áudios e vídeos manipulados, passar por sobre os lixos cibernéticos e também se desviar das revelações de última hora, sem tempo para resposta.
Quase nada é óbvio, exceto a divisão do mundo em duas metades. Cada um dos lados vomita sua razão. Quando tudo terminar, o que restará? Enfrentar o governo do vencedor, e se possível, revirar os escombros e tentar salvar as amizades rompidas. Nesta campanha a mentira venceu.