Lá estão eles. Os influenciadores, os empresários, os modernos arautos da inclusão. Discursam sobre diversidade, postam frases de impacto, fazem campanhas emocionantes no Instagram. Mas tente entrar na loja deles com uma cadeira de rodas. Experimente ser um cliente surdo e pedir informação. Pergunte se algum atendente sabe Libras. O sorriso some, a paciência evapora e a desculpa vem pronta: “Infelizmente não estamos preparados para isso ainda”.
Ah, mas preparados para vender estão. Para lucrar, também. O que não se vê é um compromisso real com a inclusão. Porque no Brasil, convenhamos, acessibilidade ainda é um favor, não um direito. Não basta a Constituição garantir, não basta a ONU assinar acordos, não basta existir uma Lei Brasileira de Inclusão. O que falta mesmo é vergonha na cara.
Oito em cada dez trabalhadores com deficiência ou neurodivergência dizem que as empresas não estão prontas para recebê-los. E olha que estamos falando de quem já conseguiu um emprego. A esmagadora maioria sequer tem chance de mostrar competência porque, para muita gente, deficiência é sinônimo de incapacidade.
Empresários preferem pagar multa do que adaptar o ambiente. Estão mais preocupados em não comprometer a “estética” do negócio do que em garantir que um cadeirante consiga ir ao banheiro. Afinal, portas largas, rampas, balcões acessíveis “atrapalham o design”.
E quando a pessoa com deficiência finalmente é contratada, costuma ficar no mesmo cargo por 10, 15, 20 anos. Promoção? Esquece. É como se o trabalho fosse um prêmio de consolação e não um direito.
Agora, imagine alguém com Mal de Parkinson tentando segurar um copo de café em público e sendo alvo de olhares condescendentes – ou pior, de piadinhas. Imagine um autista ou alguém com TDAH sendo tratado como “difícil” porque tem um jeito diferente de se concentrar. Isso quando não são demitidos por “baixo rendimento”, sem que ninguém se preocupe em oferecer condições adequadas para que desempenhem suas funções.
Mas o cinismo não para por aí. Há quem defenda que essas pessoas simplesmente trabalhem de casa. Um terço dos funcionários com deficiência afirma que seu ambiente de trabalho não tem estrutura para recebê-los. E a solução encontrada por muitas empresas é jogá-los no home office – porque, assim, o problema deixa de ser visível.
A verdade é dura, mas precisa ser dita: acessibilidade, no Brasil, ainda é vista como um luxo. Inclusão só existe no papel, na propaganda e nas campanhas publicitárias feitas para sensibilizar quem já tem empatia – mas que, na prática, não muda nada.
Quantos veículos de Comunicação possuem repórteres, jornalistas, comunicadores com alguma deficiência? Divulgam o problema dos outros, não lhama para seus umbigos. Os outros precisam se adaptar, nós não! Estamos incólumes, somos a curva fora da rota. Não precisamos!
E enquanto essa hipocrisia continuar, quem depende da verdadeira inclusão seguirá esbarrando, todos os dias, não só em degraus e portas estreitas, mas na barreira maior de todas: o preconceito.
*Jornalista/Radialista/Filósofo