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A volta do crachá, trânsito e videoconferências

Gregório José*
Publicado em 20/01/2025 às 19:00.

Ah, o velho e glorioso regime presencial! Nada como enfrentar um trânsito matinal apocalíptico só para chegar ao trabalho e descobrir que a reunião, vejam só, será por videoconferência. É uma arte corporativa que beira o surrealismo: sair de casa para encarar um trânsito infernal e, ao chegar ao destino, conectar-se virtualmente com alguém que poderia estar a um clique de distância — literalmente.

Segundo uma pesquisa divulgada pela Exame, o vale-combustível e o auxílio-mobilidade ganharam um gás, com aumentos de 203% e 76%, respectivamente. A razão? Muitas empresas estão voltando ao regime presencial ou híbrido, mesmo que boa parte das funções possa ser feita da sala de estar ou, com sorte, de uma rede na varanda. É como dar um presente ao motorista que acabou de ganhar um carro sem freios.

Agora, não se trata de condenar o trabalho presencial, veja bem. Há quem sinta saudade do cafezinho compartilhado, das conversas de corredor e do eterno “deu pau no projetor”. Mas será que não estamos exagerando no fetiche pelo crachá?

Enquanto isso, empresas como o Spotify, bastião do bom senso digital, lembram ao mundo corporativo que seus funcionários não são crianças. Trabalhar não é um lugar, é uma ação. E com essa filosofia, defendem que produtividade e qualidade de vida podem coexistir — como vinho e queijo, não como ketchup e sushi. Quem diria, hein?

E, francamente, o home office não é só evitar o trânsito ou economizar no combustível (embora esses sejam bônus fabulosos). É sobre ter um ambiente onde a criatividade não é interrompida pelo som do alarme de incêndio falso ou pelo colega que insiste em falar alto no viva-voz. É também sobre poder almoçar algo que não veio embrulhado em isopor, caminhar entre tarefas sem parecer que está fugindo da reunião, e até (pasmem) passar mais tempo com a família — um conceito radical para algumas empresas.

No entanto, muitas companhias ainda resistem ao modelo remoto como se ele fosse uma trama diabólica para destruir a produtividade mundial. Parece que ainda vivemos no mito de que um trabalhador só é produtivo se puder ser vigiado de perto, como um adolescente com tarefas escolares por fazer.

Talvez a resistência venha do medo da mudança, ou quem sabe de uma saudade inexplicável do cheiro de toner de impressora. Mas forçar um funcionário a sair de casa para fazer, na empresa, o que ele faz com mais eficiência no sofá é, no mínimo, contraditório. É como levar sua marmita para um restaurante e pedir para esquentarem lá.

Por isso, amigos, que fique a reflexão: talvez esteja na hora de muitas empresas repensarem seus paradigmas. Porque produtividade não é estar presente, é estar comprometido. E, convenhamos, ninguém precisa de trânsito, crachá ou reuniões inúteis para provar isso.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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