A cada dia que passa, parece estarmos perdendo esta perspectiva de vista, este conceito de nosso alcance, essa verdade de nossa mira. A violência nas ruas, a corrupção no poder, a injustiça social, o tráfico incontrolável, o medo constante, o desemprego, o consumismo, a banalidade do mal, a mídia perversa, a precariedade dos serviços públicos, o trânsito caótico, a pressão no trabalho, a frustração diária, os traumas cotidianos, tudo isso pode ser considerado numa tentativa de explicação deste estranho sentimento que experimentamos no Brasil e na grande maioria dos países com baixos índices de desenvolvimento econômico e social.
As pessoas estão ficando brutalizadas, insensíveis, cruéis e vingativas. Tragédias envolvendo assassinatos frios de crianças, adolescentes, parentes, vizinhos, conhecidos ou anônimos por motivos fúteis ou por meros interesses materiais são amplamente estampados e divulgados nos jornais e TVs diariamente, alimentando esta energia ruim que toma conta de nossa mente e de nossa consciência. As pessoas estão querendo ou desejando reagir na mesma moeda, olho por olho, dente por dente, como se estivéssemos numa guerra silenciosa contra tudo e contra todos.
No fundo sabemos que a vida não se resolve assim. A vida exige cuidados especiais... Ela renasce nos pequenos gestos, nas singelas atitudes, nos sutis movimentos, no sentido da harmonia, do prazer e da alegria que estamos deixando de lado, para as quais estamos virando as costas e que fazem toda a diferença.
A vida é muito preciosa. Cada minuto deveria ser celebrado com júbilo, com satisfação e gratidão. Afinal, fomos escolhidos para viver aqui e agora neste planeta maravilhoso que, por falta de sabedoria e solidariedade, estamos transformando num inferno global. A vida é graciosa, leve e imprevisível como um voo de borboleta. Nosso maior erro é querer controlar tudo e todos, como se tivéssemos domínio de todo o script que motivou nossa passagem por aqui.
A vida é como um cristal. Se quebra podemos tentar colar os caquinhos, mas nunca será a mesma coisa. Gastamos uma fortuna de energia, dinheiro, remédios e terapias para consertar nossos equívocos, para enfrentar as consequências de nossos erros diários.
A vida não é para ser mantida a qualquer preço. A vida é um eterno movimento, como uma valsa vienense que nunca cessa e à qual devemos nos render e emprestar nossos membros, nossa inteligência, nossas habilidades, nossos melhores talentos. A vida exige paciência, especialmente nos momentos de reconstrução, nos momentos mais difíceis quando estamos sendo testados por ela e temos a vontade de explodir. A vida exige cuidados e organização. A vista custa caro e os recursos são perecíveis e ou limitados. É preciso poupá-los, valorizá-los, evitando o desperdício, o egoísmo, a ganância, o exagero.
É preciso ter compaixão, sem aflição ou lamentação, sem nos fazermos de vítimas pelo que está acontecendo ao nosso redor. É preciso ter esperança, fé e determinação que tudo, mesmo o negativo, pode ser transformado no bem.
É preciso acreditar no amor e no ser humano!
Aprender a abrir uma porta, uma janela, uma fresta sequer. Fazer ou desejar o mal a outrem, ignorar a desgraça alheia não vai trazer nenhum benefício aos nossos corações!
A vida é muito delicada.