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A qualidade e o brilho falso das medalhas de Macron

Publicado em 12/08/2024 às 19:00.

Ah, o charme francês! Emmanuel Macron, o galante presidente da França, sempre tão rápido em apontar os defeitos alheios, dessa vez tropeçou no próprio salto alto. Afinal, quem diria que o país da alta-costura e dos queijos finos conseguiria errar na receita mais simples: medalhas olímpicas. Sim, aquelas que deveriam ser eternas como a Torre Eiffel, mas que, ironicamente, estão descascando como uma baguete mal assada.

Imaginem só, o skatista americano Nyjah Huston, todo feliz com sua medalha de bronze, se vê em uma cena digna de um filme francês: sua preciosa condecoração, em menos de uma semana, começa a perder a cor e a lascar. Algo assim deve ter sido um choque maior do que qualquer manobra arriscada no skate. A medalha, que deveria simbolizar o auge do esforço e da dedicação de um atleta, mais parecia participar de uma competição paralela – de desintegração!

Talvez seja o primeiro caso na história das Olimpíadas em que o vencedor precise se preocupar mais com o estado de sua medalha do que com a própria performance. Coisa de cinema, ou melhor, de filme de terror!

Parece que as medalhas foram desenhadas para serem admiradas à distância, expostas sob vitrines de cristal em museus, intocáveis, como as joias da coroa. Porque, se deixadas ao relento ou, Deus nos livre, em contato com suor humano—afinal, quem diria que um atleta poderia suar?—elas rapidamente se transformam em relíquias arqueológicas instantâneas.

Será que os designers franceses confundiram medalhas olímpicas com arte moderna, feitas para serem apreciadas mas nunca tocadas? Ou quem sabe, no espírito do requinte francês, as medalhas deveriam ser usadas apenas em ocasiões especiais, como um vinho raro que se guarda para momentos únicos, longe de qualquer contato vulgar com a realidade?

E que tal a medalha da britânica Yasmin Harper, já descolorindo como um pôr-do-sol na Normandia? Ela, coitada, até que levou na esportiva. Mas o Isaquias Queiroz, o canoísta brasileiro, teve que lidar com o toque especial do seu filho Sebastian. Bastou uma queda e pronto, a medalha ficou com uma marca de batismo, mais genuína que o ferro da Torre Eiffel que dizem ter sido usado para fazer essas peças. Macron, que adora um discurso sobre a glória da França, deve estar lamentando que essas medalhas não venham com garantia estendida.

Se fossem as medalhas brasileiras. Senhor do Bonfim! Estaríamos sendo criticados até hoje e sabe-se lá por quanto tempo.

E vejam só a ironia: as medalhas foram desenhadas pela renomada joalheria Chaumet, mas talvez precisem mesmo é de uma boa camada de esmalte, daqueles que se usa nas feiras do interior. Afinal, o lado francês que nos encanta é o do requinte, não o da fragilidade. Macron, mon cher, que tal dar uma olhadinha no espelho da sua amada Torre Eiffel? Às vezes, não custa nada dar um lustre na prata da casa antes de criticar a vizinhança.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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