Trata-se de um artigo em que abordo um tema que me é caro e, por isso mesmo, recorrente: a empatia. “A Empatia e o Infamiliar” pode ser encontrado na edição 34.1 da revista Psicologia Clínica (PUC-Rio). Escrito em conjunto com Renato Tardivo, doutor e mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor na mesma unidade, optei, no referido texto, por abordar esse tema a partir da análise do filme “Praça Paris”, de Lúcia Murat, tomando seu enredo como um caso clínico.
No artigo, a ideia foi evidenciar as facetas na relação entre as personagens principais do filme, Camila e Glória (analista-estagiária da UERJ e sua paciente). Em determinado momento da trama, Glória é torturada por policiais para revelar informações sobre o esquema que mantém seu irmão comandando uma comunidade de dentro da prisão. Quando ela chega ao local de análise com o rosto marcado pelas agressões e conta o ocorrido, Camila se indigna e insiste em que ela faça uma denúncia e, indo além, toma partido da situação de um ponto de vista curioso: diz que a universidade poderia intervir e ajudá-la. Vemos aqui uma sequência interessante para falar sobre a dificuldade de circulação de afetos entre elas, em que Camila se vê tomada por ímpetos de ação onipotentes – e consequentemente impotentes – que ultrapassam as fronteiras de seu ofício.
A relação de identificação entre as personagens é posta como elemento importante no discurso social, o que, por sua vez, pode levar a usos equivocados da empatia. Ela pode aprisionar e confundir como pode servir de estranhamento e afastamento. É então que convoco Sándor Ferenczi para a discussão, trazendo um questionamento do lugar da identificação e discorrendo sobre suas conexões com o chamado “infamiliar”, com o objetivo de expor o que considero ser a postura empática na clínica. Destaco como o desejo de ser empático durante uma sessão deve estar articulado com a modalidade do juízo do analista: cogitar o por que se está fazendo o que se está fazendo e até quando se deve fazê-lo.
O “infamiliar”, tema e título de ensaio de Freud, é uma das traduções mais convencionadas, em português, para o termo alemão “unheimlich” -- juntamente com “estranho”, “inquietante” e, fora do âmbito da psicanálise, “assustador”.
No artigo produzido para a PUC-Rio, é isolado e explicado o método de análise escolhido para abordar o filme e, posteriormente, são narradas suas primeiras cenas, para então se discorrer sobre a empatia e a identificação e sua relação com o infamiliar.
*professor de Psicopatologia Psicodinâmica, Avaliação Psicológica e Introdução ao Pensamento Clínico