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A arte da desculpa e a retórica da comparação entre governos

Gregório José*
Publicado em 11/02/2025 às 19:00.

A melhor defesa é o ataque, e Fernando Haddad parece ter aprendido bem essa lição. Seguindo a estratégia de Sun Tzu, o ministro da Fazenda decidiu intensificar sua ofensiva retórica contra o governo Bolsonaro, usando comparativos seletivos para justificar o desempenho da economia sob o governo Lula. Haddad dedica-se a desviar atenção das dificuldades atuais para criticar gestões passadas. A tática é clara: enfatizar o que o governo Lula teria feito de positivo enquanto relativiza os desafios persistentes. O argumento central? O tempo é curto e os estragos do governo anterior foram imensos. Mas até que ponto isso se sustenta?

No caso do salário mínimo, o ministro insiste na valorização promovida por Lula, mas ignora o impacto da inflação e da carga tributária sobre os trabalhadores. O custo de vida subiu e compromete significativamente esse suposto ganho. A tentativa de responsabilizar Bolsonaro por anos de congelamento também desconsidera variáveis econômicas e contextos fiscais que influenciaram decisões passadas.

Já sobre os preços dos alimentos, o raciocínio do ministro beira o absurdo ao creditar a alta do dólar à eleição de Trump. A flutuação da moeda americana tem causas múltiplas e complexas, e usá-la como bode expiatório revela mais um malabarismo argumentativo do ministro.

Ao falar de crescimento e desemprego, o discurso também se torna conveniente. Comparar os números atuais aos dos períodos mais difíceis da pandemia é um truque estatístico que mascara um cenário ainda preocupante. Além disso, o setor produtivo segue travado por tributação elevada e incertezas políticas.

No caso dos combustíveis, a narrativa do dólar para justificar as oscilações, ignora que a Petrobras tem liberdade para definir preços e que políticas internas também impactam diretamente os valores na bomba.

Quanto à indústria, os 3,1% de crescimento celebrados pelo ministro são modestos diante da necessidade de retomada mais robusta. E culpar Bolsonaro pelo contrabando é uma simplificação tosca de um problema histórico e estruturante.

Ao abordar os juros, mais uma vez é usada a tática do “herança maldita” para justificar as dificuldades. No entanto, a realidade é que a própria equipe econômica atual enfrenta dificuldades para conter déficits e equilibrar contas. A tentativa de tributar grandes fortunas e paraísos fiscais pode parecer justa, mas a execução e seus efeitos práticos ainda são questionáveis.

Os ministros podem até seguir a máxima de Sun Tzu e atacar com vigor, mas a realidade econômica se impõe: comparativos seletivos e justificativas políticas não substituem medidas concretas para um crescimento sustentável. O tempo passa e os desafios permanecem.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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