Arcádias e pastores, musas e academias - por Antônio Augusto Souto

Jornal O Norte
02/05/2007 às 11:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:03

Antônio Augusto Souto

Nos séculos XVII e XVIII, poetas se filiavam a uma espécie de academia literária chamada arcádia. Cada um adotava nome de pastor, seguindo a tradição greco-romana, e escolhia sua musa, isto é, mulher inatingível que lhe inspirava os versos.

Que me perdoe a estimada leitora, mas mulher “atingível” não tem condições de ser musa. É certo que ela tem lá seus momentos de encantamento e magia. No entanto, também tem seus instantes de torração. Claro que, para quem é chegado à espécie, é possível e necessário relevar e desconsiderar as chatices. Mas musa, inspiração mesmo, ela nunca será. Embora nossa estratégia, no vale-tudo da sedução, exija que digamos, sempre, que ela seja. E ela acredita e nós tocamos o barco.

Houve inúmeras arcádias, no universo da civilização ocidental. Houve arcádias em Portugal e no Brasil, principalmente na segunda fase da colonização, quando ocorreu a ainda nebulosa Inconfidência Mineira.

Como inconfidência (com inicial minúscula ou maiúscula  não importa) lembra Vila Rica, vale dizer que Vila Rica lembra, necessariamente,  poetas e sonhadores. Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga... Todos filiados a alguma arcádia. Cláudio adotou o nome árcade de Glauceste Satúrnio, nasceu na região de Mariana, onde morreu, quando se achava preso. Gonzaga, que era lusitano, escolheu o nome Dirceu. Sua musa era Marília que, para meu gosto pessoal, é um belo nome de mulher, na vida real ou na poesia.

Por falar nisso, acho que nome de mulher bonita (ou nome bonito de mulher) tem que ter, na sua estrutura fonética, a combinação harmônica de A e I. Marília é um bom exemplo, assim como Patrícia, Maria, Sílvia e Clarissa.

As arcádias se evolaram, no percurso inexorável da história. Restaram as academias de natureza vária. Entre elas, as de letras, como a ABL, também conhecida como Casa de Machado de Assis.

Acadêmico de letras não precisa ter musa ou esconder-se sob pseudônimo. Pode ser prosador ou poeta  tanto faz. E é livre o suficiente para escrever sobre a mulher ideal ou a real, de forma poética, realística ou naturalística.

Drummond falou do poeta federal, do estadual e do municipal. Sem a intenção humorística do enorme poeta de Itabira, devo registrar que há academia federal (ABL), estadual (AML) e municipal (AML também).

A propósito, acabo de receber convite da Academia Mineira de Letras (AML) para a cerimônia de posse do montes-clarense ilustre, meu amigo e mestre, Manoel Hygino dos Santos. Quem convida é Murilo Badaró, atual presidente e conhecido ex-político nascido na região de Minas Novas.

Mestre Manoel  é jornalista, historiador e cronista dos melhores. Conhece, como poucos, os meandros e desvãos da língua portuguesa. Sua crônica diária em jornal belorizontino é minha leitura obrigatória, todas as manhãs. Seu texto é límpido, elegante e tem a leveza rara das obras de arte.

A cadeira a ser ocupada é a de número 23, que pertenceu a Raul Machado Horta.

Estarei presente. Quero abraçar o generoso prefaciador do meu “Correção de Rumo”.

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