Alberto Sena
Jornalista
Procuro mulher, homem, adolescente ou criança que possa ter perdido uma correntinha com medalhinha de Nossa Senhora de Fátima, confeccionadas em ouro. A joia foi encontrada por volta das 11h de uma quinta-feira do mês de maio de 1958.
Estava dentro do recipiente do registro d'água do jardim da Praça Dr. João Alves, em frente ao número 14, onde fica o prédio do Grupo Escolar Gonçalves Chaves, em Montes Claros.
Naquela manhã, o dia havia amanhecido diferente. Prenunciava algo novo na vida do aluno do segundo ano primário.
Como sempre, o Sol quente irrompera na linha dos claros montes, e como a aula da professora dona Alba Alkimin havia acabado um pouco mais cedo, o aluno sentiu sede ao sair do grupo e correu para o registro d'água do jardim, mesmo não sendo a água filtrada.
Ele abriu a torneira e o esguicho subiu o suficiente para beber água e observar no fundo do recipiente algo reluzente. Apesar de naquela época já saber do provérbio 'nem tudo que reluz é ouro' (William Shakespeare), ele não tinha nada a perder: enfiou a mão no fundo do registro nem tão fundo e pegou o objeto.
Reluzia sob os raios do Sol. E era ouro. Claro, o aluno teve o cuidado de olhar para um lado e para o outro lado a fim de verificar a presença de alguém que pudesse ter perdido a correntinha com a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima. Mas como não viu ninguém por perto, bobo não foi de deixar a joia ali para outra pessoa pegar.
Ele a guardou no bolso da calça curta, azul-marinho. Pensou até em colocar a correntinha com a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima no bolso da camisa branca engomada, onde do lado de fora tinha o distintivo do Grupo Escolar Gonçalves Chaves.
Só não fez isso porque pensou: 'talvez a correntinha com a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima estivesse no bolso da camisa de alguém que a perdeu ao se debruçar sobre o registro d'água para saciar a sede'.
Alguém que bem podia ser, como mencionado no início deste anúncio, mulher, homem, adolescente ou criança.
É bom achar coisas de valor na rua. Todo menino gosta. Perder não é bom, claro. Ele até pensou no possível desespero de quem a perdeu. Mas, fazer o quê? Não ia gritar pela rua, perguntar quem a perdeu porque podia aparecer mais de um dono. E aí seria danado!
O aluno guardou a joia no bolso da calça, enfim. Sede saciada, ele pegou pela alça a pasta preta com cadernos e livros e virou corisco. Subiu a Rua São Francisco, atravessou a passagem de nível lá adiante e logo estava em casa, radiante, exibindo para todos, pais e irmãos, o 'troféu' encontrado.
Resultado: uma das irmãs da primeira safra, chamada Geralda, apelidada Ladinha, ficou com a correntinha e a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima e tudo se acabou assim.
Ficou só a sensação de nada ter achado.
O tempo voou. Foi como se um gigante de boca aberta o engolisse, e eis: a joia achada veio à lembrança como tema para escrever este anúncio: procuro mulher, homem, adolescente ou criança que possa ter perdido a correntinha com a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima, tudo em ouro, naquele perdido dia de maio de 1958, ano em que a Seleção Brasileira de futebol se sagrou, pela primeira vez, Campeã Mundial.
Confesso: faço o anúncio à revelia de Ladinha. Corro o risco de ficar sem graça, se por acaso aparecer o dono ou a dona da jóia, porque nem sei mais o destino dado pela irmã à correntinha e à medalhinha de Nossa Senhora de Fátima, que reluziu dentro d'água e era ouro.
Evidentemente, não posso acreditar no primeiro a aparecer dizendo ser o dono ou a dona. A pessoa precisa dar, com a maior fidelidade possível, todas as características da correntinha e da medalhinha de Nossa Senhora de Fátima. Inclusive o formato dos elos e as demais características.
E não é só: o dono ou a dona precisará apresentar a Nota Fiscal de compra, caso contrário, o dito neste anúncio fica pelo não dito.
Assim, o aluno de dona Alba Alkimin continuará com a consciência tranqüila. E o dever de anunciar cumprido, 52 anos depois.
Antes tarde do que mais tarde.