Antas

Jornal O Norte
Publicado em 21/07/2010 às 19:12.Atualizado em 15/11/2021 às 06:33.

José Wilson Santos


Jornalista



Caso o índio velho não saiba, a anta (ou Taipirus terrestris, maior mamífero do Brasil com até 1,20 metro de altura, encontrado em florestas e campos da América do Sul) não é exclusividade nossa nem de nossa América. Dia desses vi duas na Inglaterra. Pela televisão, é claro, porque minha ida pessoalmente e à cores às terras da Grã-Bretanha ainda está condicionada a eu arrebentar a boca da Mega Sena. Mas com uma bufunfa dessa, desconfio que terei coisas muito mais interessantes que as antas inglesas pra espiar na England.



Roliça e bem falante, uma delas, figuraça ilária que encheu a telinha e ablou pacas em interessante matéria jornalística, deixou emprego de lixeiro depois de abiscoitar (putz, abiscoitar é bom pra caramba) o equivalente a 27 milhões de reais na loteria inglesa. Oito anos depois, falido e mal pago, o cabra estava correndo travês atrás da antiga ocupação.



O único bem que possui, além do carango sambado de segunda mão, é uma mansão caindo aos pedaços, que deve uma baba em impostos, portando difícil toda vida de ser torrada no cobre e pelo cobre que o rapaz sonha voltar a colocar as mãos.



A outra, ruivinha da silva, que faturara o equivalente a 17 milhões de reais, saracoteou por boa parte do mundo, durante alguns anos, queimando dinheiro. Por conta disso, hoje é uma senhora doente, que precisa regrar a comida pra fazer duas refeições decentes ao dia.



Ao contrário das antas de cá, que também amargaram essa experiência, as de lá garantem que se a sorte voltar a lhes sorrir farão tudo igualzinho novamente e de novo. Os poucos anos de milionários sem limites no cartão de crédito, para eles, foi 'mais melhor' que uma vida regrada, de gastos parcimoniosos, como convém aos pobres mortais. Tipo assim: só comprar um carro zero bala/mês, mais um apzinho de três quartos em área nobre de Londres, uma fazendinha, e de quebra esticar uma vezinha à Cotê D´Azul (ou um pulinho a Istambul) a cada mês. Essas coisinhas basiquinhas e à-toa pra quem até tresantontem não tinha aonde cair morto.



É por essas e outras que o Degas aqui já se enfronha no mercado financeiro, procurando as melhores e mais seguras aplicações para o rico dinheirinho que  faturarei, qualquer dia desses, na mega. Quero dar sopa pro azar não, índio velho.



E como seguro morreu de velho, farei psicanálise, me preparando de antemão pra gastar bem pra dedéu a parte que me tocar, depois de repartido o bolo  com a prole, de sorte que cada um trabalhe como melhor aprouver (aprouver: primeira ou terceira pessoa do singular do futuro subjetivo do verbo aprazer, que significa causar prazer, ser aprazível; agradar, deleitar...) a parte que lhe tocar.



Só não comecei as sessões ainda, porque não encontrei uma psicanalista boa pacas, que meta a mão na massa para receber depois que eu acertar os seis números perseguidos.



Ah, sim! Ao contrário dos ingleses abestaiados, que cheiraram, injetaram, fumaram e comeram com farinha, o Degas aqui só é viciado em coisar. E coisar só é um trem caro pra quem é casado, o que não é meu caso. Eu posso, índio velho, coisar toda vida, enfiar a cara, me lambuzar no vício sem risco de ir à bancarrota (bancarrota é usada para definir a situação relativa à falência, sendo que a palavra deriva da expressão italiana 'banco rotto').



Tão tá então?

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