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Sexta-Feira,27 de Dezembro

Annelise e o seu recital de canto - por Dário Teixeira Cotrim

Jornal O Norte
Publicado em 25/10/2007 às 11:47.Atualizado em 15/11/2021 às 08:21.

Dário Teixeira Cotrim *


 


Montes Claros é mesmo surpreendente. Estivemos mais uma vez no luxuoso e aconchegante auditório do Conservatório Marina Lorenzo Fernândez. Desta vez para ouvirmos o doce deleite da música clássica e aplaudirmos com a devida justiça a soprano Annelise Cavalcanti Prado que nos brindou com um Recital de Canto em que comemorava a sua formatura por estudos feitos neste Conservatório Estadual de Música. Bonita, dona de uma voz marcante e de uma personalidade forte, Annelise sabe o que quer e quer a liberdade para fazer e cantar o que lhe agrada. Por onde ela passa o sucesso é absoluto, provocando no seleto público o delírio que ombreia os lieder dos compositores clássicos para os tempos de hoje. A sua apresentação – solista – foi verdadeiramente impecável. Também a nossa formando já participou em outras oportunidades como corista, por exemplo: na Missa da Glória de Puccini (2001), no Festival Bach de Corais da cidade de São Lourenço (2002), no Coral Júnia de Mello Franco, com o impressionante grupo Lírico Bezzi onde interpretou a ópera La Força del Destino, de Verdi (2004) e em outras inúmeras ocasiões aqui e em alhures. Annelise iniciou os seus estudos de canto sob a orientação do ilustre professor Roberto Mont’Sá, por quem ela nutre um carinho todo especial – e nós também. 



Do Recital de Canto desta memorável noite de formatura constou da programação um rico e generoso cardápio musical: 1. Cláudio Santoro – Acalanto da Rosa; 2. Villas Lobos – Canção do Amor; 3. E. Granados – El Majo Discreto; 4. F . Shubert – Der Hirt auf dem Felsen; 5. Charles Baudelaire – L’invitacion au Voyage; 6. W. A. Mozart – Duett: Bei Mãnnern, welche Liebe Fühlen; 7. G. Puccini – O mio babino caro; 8. G . Gershwin – Summertime; 9. G . Puccini – Senza Mamma; 10. G . Puccini – Quando m’em vo soletta e 11. G . Rossini – Duetto Bufo di Due Gatti. Noutras palavras: é como se Annelise juntasse em seu repertório os melhores lieder de vários compositores num único espetáculo.



Aqui houve o encontro de dois grandes barítonos numa perfeita sinestesia que revelou a dimensão sinfônica deste evento: o André Matos e o já consagrado Roberto Mont’Sá – que muito abrilhantou o Recital de Annelise. Além disso, foi impecável o desempenho de Rita Lafetá no piano. Apesar de tantos destaques notáveis, impressionou-nos sobremaneira o clarinetista Ananias Neto no acompanhamento do musical Der Hirt auf dem Felsen, de Schubert.



Com a consagração do público, este foi um ano especial para a cultura musical montes-clarense. Nunca se ouviu tantas óperas e recitais quanto neste tempo presente. Por detrás desta febre de talentos está o Conservatório Estadual de Musica Lorenzo Fernândez que a cada dia nos surpreende com novas sopranos, interpretando a bela música clássica universal. Hoje, buscar outras sopranos ou outros barítonos é, de fato, fundamental, já que a cidade de Montes Claros sempre esteve na vanguarda dos acontecimentos culturais e por tudo isso não podia deixar de apresentar ao grande público, os melhores coralistas e nem os melhores solistas de sua ilustre plêiade de intelectuais.



Pode-se dizer agora que nós, montes-clarenses, já conhecemos a talentosa soprano, Annelise Cavalcanti Prado, isso graças a sua inteligência e a sua determinação de vencer obstáculos e de escalar degraus para a conquista da coloratura musical. Aos seus pais – Adolfo (Miriam) de Oliveira Prado – resta-nos apenas dizer-lhes que a trajetória vitoriosa de Annelise apenas começa a frutificar e que tudo isso só foi capaz devido ao apoio e o carinho que vocês dedicaram a ela. Ainda assim, há uma longa estrada a percorrer onde os frutos serão os melhores e de sabores infinitamente mais adocicados. Nas palavras de agradecimento da própria Annelise podemos reafirmar que “é inegável o sincronismo de todos que contribuíram para que este momento chegasse. Muitas foram as energias somadas em torno de um mesmo objetivo. Mas é visível como algumas pessoas se projetam incansavelmente. São pessoas que souberam se fazer presentes, que se tornaram incomuns, à luz do meu reconhecimento”. É interessante notar também que não existem mais arestas para serem aparadas pelo caminho afora. A pedra bruta já foi lapidada e tornou-se uma jóia rara. Agora a voz é veludosa e a imagem ultrapassa os encantos da perfeição. Annelise bela sempre bela Annelise. Parabéns!



* Da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

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