Anistia ampla, geral e irrestrita - 30 anos

Jornal O Norte
Publicado em 08/01/2010 às 10:33.Atualizado em 15/11/2021 às 06:16.

Felippe Prates



“O bêbado com chapéu coco


Que sonha com a volta do irmão do Henfil


Fazia irreverências mil


Com tanta gente que partiu


Pra noite do Brasil, meu Brasil


Num rabo de foguete...”



O Brasil se emocionou com “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, que se tornou o hino da luta pela anistia, que completou 30 anos no último ano.  A ditadura liquidou com as liberdades políticas e baixou uma sombra de terror, prisões, torturas, mortes, desaparec imentos e obrigou uma multidão de brasileiros a deixar o Brasil “num rabo de foguete”.



A grande luta dos anos 70 foi a da anistia ampla, geral, irrestrita.  Cresceu até tornar-se um irresistível movimento de massas.  A cultura liderou a luta contra a censura e pela liberdade.  Mobilizou artistas, intelectuais, estudantes, jornalistas, religiosos e políticos que levaram o regime à distensão “lenta, gradual e segura” nos tempos de Geisel e à anistia sob Figueiredo. Uma vitória parcial, uma etapa de um processo que removeu os últimos obstáculos para a volta da democracia  resultando na campanha das “diretas já”, dos anos 80.



O povo brasileiro lutou politicamente com resistência e resiliência próprias dos conscientes e senhores de seu destino.  Desde então vivemos momentos de exaltação, frustração e mobilizações como a dos cara-pintadas e a que resultou na eleição de Lula.  Ao longo desse processo a democracia avançou e se consolidou, apesar da imagem negativa de muitos políticos corruptos e da sensação de impunidade gerada por sucessivos escândalos.  A corrupção não é filha da democracia.  Pelo contrário, expõe-se à luz e ao julgamento do povo que não está apático, como muitos apregoam, mas vigilante, consciente, até agressivo, como vimos há pouco em Brasília, disposto a lutar contra a bandalheira pelo desforço físico.



O povo não está adormecido, ele age e se organiza e a cultura tem um papel central nesse procedimento.  É preciso documentar o passado, impedir que os jovens que não viveram o arbítrio ignorem a História para não repetí-la, mesmo como farsa.  É a cultura que consolida a educação do povo e forma cidadãos.



A luta pela cultura é essencial à democracia.  O papel e a responsabilidade dos intelectuais não podem ser adiados nem minorados.  A missão primordial dos militantes da imprensa é trabalhar para que a cultura esteja ao alcance de todos, sem exclusões de qualquer natureza.



As lutas pela anistia e contra a censura devem nos guiar na direção de um país onde a expressão “do povo, pelo povo e para o povo” não seja apenas uma frase repetitiva e morna, mas a pedra angular de uma república justa, forte, livre e próspera, uma verdadeira (e culta) “mãe gentil”.



Fonte: Entrevista com Jandira Feghali Secretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro

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