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Quarta-Feira,17 de Dezembro

Anarquismo: malogro da experiência

Jornal O Norte
Publicado em 24/01/2013 às 20:38.Atualizado em 15/11/2021 às 16:57.

O anarquismo no Brasil não deu certo como tantas outras experiências. Suponho que assim aconteceu porque não era anarquia, desorganização, bagunça, com o que sonhavam muitos que para cá se transportaram ou aqui nasceram. Fazer o que lhes a provesse sem qualquer sistema ordenado.



Em síntese, a anarquia é o estado de qualquer sociedade sem chefe, isto é, a negação do principio de autoridade, transformado em sistema político. No fundo, a concepção anarquista sempre existiu na humanidade, em oposição à tendência governamental e hierárquica, de que o mais prestigioso defensor na Grécia foi Zenão de Citio, embora deite raízes ao utópico Estado de Platão. É uma longa história, cujas dimensões deste espaço não comportam uma análise, daí partirmos daí para seu registro no Brasil. É o caso de “Um amor anarquista”, obra de Miguel Sanches Neto, que as escritoras paulistas Magaly Trindade Gonçalves, Zélia Thomaz de Aquino e Zina C. Bello bem focalizaram em “Memorialística – História, Memória, Ficção”, lançado no final de 2012.



Partindo de anotações de um dos integrantes do movimento, Viovanni Rossi, Sanches elaborou um trabalho (inédito, suponho eu) importante para conhecer-se o experimento da colônia estabelecida no Paraná, vista por dissidentes de Curitiba como uma grupo de vagabundos. Para as três professoras, é muito convidativo e encanto formar núcleos mais “naturais” de convivência, embora por outro lado se constata que tudo é muito precário.



Dividir as coisas ainda pode ser aceitável, mas as mulheres, complica. A terra não rende o suficiente e os homens chegados à Colônia, em busca de liberdade, se vêm obrigados a horário fixo de trabalho e a receber ordens. Só uma coisa aparentemente melhorara: o dinheiro não se destinava unicamente à família, pois para uma caixa coletiva. E surgiram e evoluíram descontentamentos.



Sobressaía o problema sexual. Não havia mulheres suficientes e elas não eram propriedade de um homem só. A beleza feminina está ao alcance de todos, de modo que reduz o status do indivíduo. As condições de vida e convivência se revelam difíceis. Era fim do século XIX no romance de Sanches.



Magaly, Zélia e Zina observaram: “Apesar da rigidez de suas crenças, do apego aos postulados, o narrador não é imune aos sentimentos que acompanham os grandes rituais.” “A pedra de toque do projeto anarquista, de uma certa forma, é a destruição de um sistema produtivo (com patrões e empregados) e da família. Para eles, na comunidade, os filhos não seriam de um só pai, mas do grupo. A mulher podia (e devia) trocar de homem para a todos servir”.



Em resumo: “Foi mais um sonho de liberdade e justiça, mas fora dos parâmetros da realidade, principalmente dos econômicos, sem falarmos nos solavancos pessoais. Não deu certo.



Manoel Hygino - escreve no jornal Hoje em Dia

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