Amor, amores...

Jornal O Norte
Publicado em 20/05/2010 às 10:35.Atualizado em 15/11/2021 às 06:29.

Felippe Prates



Darcy Ribeiro, nos anos 60, quando vivia no exílio, esteve na Suécia para encontrar-se com a tradutora dos seus livros, uma louraça natural, muito bem prendada físicamente.  Uma vez em sua casa, a sueca, sem maiores cerimônias,  despiu-se rapidamente e arrastou o surpreso antropólogo para um debate cultural corpóreo entre os povos dos trópicos e os nórdicos.  Lá pelas tantas, quando os trabalhos aconteciam animadíssimos, alguns ruidos vindos de fora foram escutados dentro do quarto.  O intelectual mineiro, antevendo o pior, não sabia o que fazer e já mirava a janela do quarto para saltar por ela, emboramente a altura de um segundo andar.  Foi, então, tranquilizado pela mulher nua ao seu lado: “Não se preocupe, é o meu marido”, disse-lhe ela, calmamente.  Com efeito, logo o grandalhão entrou no quarto com ares amistosos, abraçou efusivamente o garanhão montes-clarense pelado e lhe disse ser leitor assíduo dos seus livros, além de sentir-se honrado com a sua presença ali, mormente tendo-o na cama do casal com a sua esposa.



Simone de Beauvoir esc reveu “O segundo sexo”, obra repleta de reclamações contra os homens.  Defendeu que a mulher não nasce mulher, torna-se mulher.  Consta que ela gostava mais de transar com mulheres.  Se não fosse o seu marido famoso, o filósofo Jean Paul Sartre, ninguém se lembraria dela.  Os dois tinham o que se chama hoje um casamento aberto, cada qual se divertindo com outros parceiros.  Para Sartre, autor de frases famosas como “O inferno são os outros” e “Liberdade é querer o que a gente pode”, seus amores fora do casamento eram “contingentes”, para Simone eram “necessários”.  Tocavam dessa forma uma vida libertária, chocando os seus contemporâneos.  Só não foram enclausurados num manicônio por causa dos seus inúmeros livros.  Como pensadores, os dois sabiam muito bem que, com a publicação de suas obras, não seriam considerados loucos.  Ora, afinal, os loucos não escrevem.  E estavam certos.  Todavia, a mulher ingrata, após a morte do companheiro, escreveu um livro narrando que ele não tomava banho e babava na roupa.



Um jornalista contador de casos nosso amigo, de muitas andanças pelo Nordeste, narrou-nos um acontecimento lá de Teresina, no Piauí, garantindo-nos ser verídico.  Três senhoras solteiras, honestas e religiosas acharam uma mala contendo um revólver folheado a ouro e mais de 50 mil dólares em dinheiro.  Sem saber a quem entregar o achado, viram uma propaganda de um candidato a vereador propalando a sua “honestidade”.  Foi a quem entregaram a mala com tudo que havia em seu interior.  O político, com a bolada que o diabo pôs em suas mãos, encheu um caminhão de prostitutas e passou a desfilar com elas pelas ruas.  Patrocinou bacanais e mandou confeccionar cinco mil calcinhas com a sua propaganda política impressa na parte de dentro da forquilha com o seu rosto ali estampado, sendo tais peças íntimas distribuidas entre as suas amigas prostitutas do lugar.  As três solteironas, cientes do desdobramento do caso, jogaram pela janela todos os seus apetrechos religiosos e tornaram-se atéias.



O famoso cantor Tim Maia, criador de casos e frases, indagado, numa entrevista, se pagaria um milhães de dólares por uma noite com a Xuxa, ou com a diva Vera Fischer, respondeu adorar todas elas mas não pagaria mais do que a tabela previa...



Mulheres de natureza ambígua são representadas pela mitológica Penélope, tida como exemplo de fidelidade conjugal, conforme a versão de ter ela resistido a 129 pretendentes que a assediavam durante a ausência de vinte anos do marido Ulísses, envolvido em sua extraordinária odisséia na volta para a sua pátria, após a tomada de Tróia.  Como a mensagem edificante nem sempre persiste naquele contexto dual criado pelos gregos, informa outra tradição que Penélope, supostamente viúva, teve o filho Pã ou com Mercúrio ou com todos aqueles seus 129 pretendentes, sendo que o próprio Ulísses foi morto depois pelo seu filho Telégono, fruto do seu relacionamento com Circe.  Penélope esposou o assassino do seu marido e ambos foram morar na ilha de Ea, ou dos Felizardos.



Quando um casamento acaba traz consigo de forma já relativamente comum, dois vulcões em erupção: os ex-amores, antes professadores da crença do amor é lindo, lavando suas roupas sujas em petições e audiências.  Matéria da revista “Veja”, edição 1704, procurando mostrar “a gana cada vez mais escancarada com que os côjuges se enfrentam nos tribunais para se depenarem mutuamente”, relaciona alguns motivos de que uma das partes lança mão para enxovalhar a outra:  “É o vale-tudo que costuma expor o que foi a intimidade da dupla, especialmente o seu lado negativo: agressões físicas, adultério, alcoolismo, abuso de drogas, impotência ou frigidez, desinteresse sexual pelo outro, homossexualidade, descuido na criação dos filhos, etc.”



Como se sabe, Brasília é um dos lugares do mundo onde mais se cometem infidelidade e adultério.  Não é preciso conhecer a turminha do barulho do ex-ministro Antônio Palocci, para reconhecer que a capital federal é uma festa para os políticos casados, que pulam a cerca nos dias da semana quando estão na capital federal a trabalho e depois voltam “mortos de saudades” para os braços das respectivas caras-metades nos fins de semana.  O cronista José Simão, do jornal “Folha de São Paulo”, registrou sua indignação contra o senador Renan Calheiros, em razão da astronômica pensão alimentícia (16.500 reais mensais), destinada à sua filha menor, fruto de um relacionamento extraconjugal com uma jornalista, paga por lobista de uma empreiteira.  “Deu-se que mulher nenhuma mais aceita salário mínimo de pensão!”   O mesmo cronista acrescenta, ironicamente: “Terceirização é isso, político transa com a amante e quem paga a conta é o lobista, sem participar da festa... Escândalo no Brasil acaba sempre assim: o homem no “Jornal


Nacional” e a mulher nas páginas da “Playboy” (o que, realmente, aconteceu).  Tudo começa e acaba em periquita.”  Renan caiu da cadeira de presidente do Senado, mas preservou o mandato.



Mas, o absurdo dos absurdos foi Edward VIII abdicar do trono da Inglaterra, em 1936, para casar-se com a plebéia Wallis Simpson, uma americana feíssima e com dois divórcios no currículo.  Ambos tomaram os títulos de duque e duquesa de Windsor.  Wallis traía o marido com um bissexual e ainda fazia troça dele, dizendo a um e outro:  “Como pode uma mulher ser todo um império para um homem?”



No que diz respeito ao círculo do poder, mais esperto entre os governantes foi o nosso presidente Getúlio Vargas, que manteve, sem ser descoberto e só despertando alguma desconfiança, um caso extraconjugal durante quatorze meses, entre 1937 e 1938, com uma mulher que não identificou em seu diário pessoal, mesmo tendo um casamento sólido de quase trinta anos.  Foi ela Aimée de Heeren, falecida em Paris em 1906, com 106 anos de idade.  Considerada por muitos a mulher mais charmosa, bonita e elegante de sua época, da família Sá Sotto Mayor era então casada com o chefe de gabinete de Vargas.  Ela brilhou intensamente nos salões do “grande monde”.



Também Juscelino Kubistchek viveu um romance arrebatador com uma “socialite” carioca, casada como ele, a loura e belíssima Maria Lúcia Pedroso.  O envolvimento dos dois teve início em 1958, quando JK era presidente da República e durou 18 anos, até morrer.  Numa carta de dezembro de 1966, escrita em Lisboa, Juscelino chegou a pedir a amante em casamento: “São 5 horas da manhã.  Não consigo dormir.  Está lançada a sorte.  Mande-me dizer sim, ou não.”  Em 1970 JK descobriu que tinha câncer de próstata, escondeu a doença de todos, como acontecera anteriormente, ainda Presidente, com um infarto e foi se tratar em Nova Iorque.  Lá, submeteu-se a uma cirurgia que o deixou impotente.  Arrasado, Juscelino, então, disse a Maria Lúcia que ela estava à vontade para, se assim o desejasse,  encerrar o relacionamento.  Mas, ela se negou, respondeu-lhe que o amava e, JK e o grande amor da sua vida, apaixonadíssimos, continuaram se encontrando.  Em 1975, o ex-presidente constatou que a cirurgia da próstata não liquidara com a doença, surgiram metástases, o câncer havia se espalhado para outros órgãos.  Só Maria Lúcia e o seu médico particular, Guilherme Romano, sabiam disso.  Juscelino, médico urologista, melhor que ninguém sentiu que o fim estava próximo.  Dona Sarah o proibira de ir ao Rio de Janeiro, onde residia a amante.  Foi por isso, para se encontrar com Maria Lúcia, que JK tomou um avião em Brasília, desceu em São Paulo e, num carro, com destino ao Rio de Janeiro, morreu na Via Dutra, num acidente fatal, em 26 de agosto de 1976. Cansado de uma situação conjugal insustentável, homem decidido, disposto a viver emboramente os seus últimos dias ao lado da mulher a quem amava, JK, antes de viajar encaminhára a um advogado os papeis para a separação judicial com dona Sarah.  Aconselhada, Maria Lúcia não assistiu ao enterro de Juscelino.  Foi ao cemitério no dia seguinte, sozinha.



Referências (fontes):   1.“A inacabada família humana”, de Leonardo A. S. Campos/  2. Arquivo pessoal do cronista.


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