Amor à vida

Jornal O Norte
Publicado em 12/12/2008 às 10:13.Atualizado em 15/11/2021 às 07:52.

Marcelo Braga


Escritor


mqbraga@hotmail.com



Conheci pessoas boas.



Que agora se vão.



E não há idade para que a admiração possa vicejar ou a amizade se instalar. Por que não posso ter amigos prestes a completar noventa anos?



Cada uma a seu modo, permearam o campo de suas vidas com sementes diversas, nem sempre frutificáveis, nem sempre conscientes, mas sublimes em sua singela condição de tentativa.



Onde está a graça de uma vida plena de acertos? Tente rir por muito tempo. Dá câimbra nas bochechas…



O conforto da vitória só sustenta, porque as derrotas consecutivas desnorteiam.



Ganhando todas as vezes, o competidor se desespera com derrotas tolas. Amesquinha-se. Torna-se um ser remendado, um Frankenstein estrábico e orgulhoso, coberto de inúmeros retalhos de egos alheios.



Forjado em perdas múltiplas, surge um ser obstinado, aguerrido, focado no único objetivo que conhece: a vitória – simples, única? –, que lhe valeria a existência.



E aí está a beleza da tentativa.



Para onde quer que ela aponte, brilham a faísca do sonho e o reflexo da esperança. Independentemente do resultado que se colha.



Uma tentativa que se frustra pode muito bem ser vista como a grandeza da iniciativa, do tentar apaixonado, da ação impávida e confiante. Não deu certo? Ainda há tempo… para uma nova tentativa!



Não há que se falar daquela que se transfigura em sucesso. Deixemos mais espaço para os demais cronistas. Até porque posso parecer arrogante ao insuflar o mérito, vez que vivemos nesse país meio invertido, em que é desagradável se ostentar o êxito. Que insolente eu teria sido… Desculpo-me por antecedência!



Essas pessoas que conheci tentaram. Sofreram ao tentar. Sorriram ao tentar. Tentaram não tentar tanto assim. Mas era tão delas essa força, que, sabiamente, conseguiram algo que nos tem faltado: exalar o doce aroma da Vida. Num tempo em que a vida escorre apática ou pulsa histérica, sem nada de cálida, nem tampouco lógica. E perde seu valor a cada surto depressivo, a cada risco desmedido, a cada vício absurdamente alimentado.



E seguimos a lamentar, a praguejar, a suspirar…



Obnubilados. Cretinamente, aparvalhados!



Muitos acreditam que estamos aqui simplesmente porque quisemos estar. Para esses, nascer sempre foi uma escolha nossa. Humana. Desfiar uma existência de lamúrias seria, portanto e no mínimo, ridículo.



Agradeço a sorte que tive por conhecer essas pessoas boas a quem sigo me referindo! De tal forma que me alegraria poder emprestá-las. A quem quisesse. A quem precisasse. O problema é que haveria muitos interessados, para que meus amigos iluminados conseguissem multiplicar o amor pela vida no tempo razoável de uma vida… Somando-se a isso, a tristeza dessa história: essas pessoas já se foram…

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