Mara Narciso
Quase todos acham que o tempo passa muito depressa. Uns poucos acreditam que a vida tem a duração correta, pois a maioria, após certas dezenas de anos de vida acabam por esquecer que já almoçou hoje, mas se lembra da roupa que alguém estava vestindo num certo dia, 50 anos atrás.
A vida humana nunca será eterna, pois a multiplicação das células, que substituem as que vão morrendo, depende do telômero, uma estrutura microscópica na ponta do cromossoma. A cada divisão celular esse artefato vai se encurtando, até tornar impossível a divisão. Então fica definido o tempo de vida.
O limite de um século vem dessa constatação. O que assusta nem é a velocidade do tempo, nem é envelhecer, e nem tanto morrer, mas viver bem aos noventa anos com a mesma facilidade que hoje se chega lá. No entanto parece ser impossível transpor razoavelmente esse patamar.
Muitas vidas podem ser vividas nesse tempo humano, sejam 70 ou 90 anos. Como dizia a minha saudosa mãe, - me disseram, citando Shakespeare: “a vida é um teatro; uns atores saem para outros entrarem”. Enquanto a vida passa, sempre pensamos nessa entidade chamada tempo. Há quem não respeite o próprio tempo, ainda menos o tempo do outro. Frases vazias e sem nenhuma intenção formal são ditas ao vento, promessas são feitas ao leu, por quem não vai fazer o que está dizendo. E para quê?
Podemos encontrar pessoas descompromissadas, por essa vida afora, e devem ser a maioria. Ocupam a agenda alheia sem nenhum comprometimento, gerando expectativas, e decepções, pois não aparecem, ou não cumprem o prometido. Muitas vezes a pessoa que ouviu a promessa não pediu, nem mesmo sugeriu nada, e o outro vai prometendo coisas, sem nem pensar nos estragos que causará. Isso sem dizer que há gente que, para aumentar a própria importância, faz questão de não aparecer. Deve ficar de lá do seu canto imaginando o outro pronto, esperando o dia todo e não vai, não avisa, não se toca. Destrói o dia da pessoa. Quando não a vida dela.
Muitos profissionais marcam que virão fazer um orçamento e não veem, ou então, fazem o compromisso de entregar um serviço ou produto e não entregam, somem, e o pior, desligam seus celulares. Por outro lado há quem marque horário com um profissional e simplesmente não aparece. Isso é falta de educação da maior, e combustível para se achar tudo normal, inclusive os atrasos indecentes incorporados à cultura brasileira: todos vão se atrasar, para que apenas eu vou chegar na hora?
Aulas marcadas para começar às 19 hs não veem ninguém chegar antes das 19:15. O professor não vem, pois, já que os alunos não estarão presentes, para que cumprir o horário? A filosofia do atraso está institucionalizada. Quem chega na hora combinada dá o vexame de ser o primeiro, e encontrar a festa sendo arrumada, ou o dono da casa a caminho do banho, dando uma desculpa, fingindo lamentar o atraso, por ele mesmo buscado.
Vou citar os atrasos de noivas, que deixam seus convidados esperando por horas. Isso se dá porque são muito importantes. O melhor da festa é esperar por ela, mas não pela noiva atrasada.
Quantas reuniões políticas começaram com, pasmem, mais de duas horas de atraso? Quantos cursos poderiam ser resolvidos num único dia, da manhã à noite e envolvem todo o fim de semana apenas pelos atrasos programados? Mal começam, e já param para o café.
O desperdício de dinheiro, de sono, de comida, de tempo pode ser até estilo de vida. Quando a ampulheta disser que não há mais areia para cair, e tarde for realmente tarde, sem possibilidade de apelo, caso tivermos alguma lucidez, veremos que numa poupança de tempo teríamos anos que poderiam ser vividos com alegria, ou não.
Então saberemos que o desperdício de tempo foi um desperdício de vida.
OBS: Os telômeros (do grego telos, final, e meros, parte) são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de proteínas e DNA não codificante que formam as extremidades dos cromossomas. Cada vez que a célula se divide, os telômeros são ligeiramente encurtados. Como estes não se regeneram, chega a um ponto em que, de tão curtos, não permitem mais a correta replicação dos cromossomas e a célula perde completa ou parcialmente a sua capacidade de divisão. (Wikipédia)