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Sexta-Feira,18 de Outubro

Aguaceiro

Jornal O Norte
19/10/2009 às 10:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:14

Ronaldo Duran


Romancista


ronaldo@ronaldoduran.com

A mãe apressada corre desesperada para pegar o guarda-chuva. Na garagem, dois carros espremem ainda mais o já exíguo espaço. A criança de quatro anos, arteira, pouco obediente aos apelos maternos, quando vê já debaixo da água. Rapidamente, após um berro, a mãe a pega e leva para o interior do veículo, ligado. Abre o portão. Mete o pé na poça. Dá marcha à ré. E se enerva tentando fechar o cadeado enferrujado do portão. Corre para o carro novamente.

Ufa! Mais uma marcha à ré.

Agora sim, nota a família do outro lado da avenida, em frente a sua casa. Estavam abrigados da chuva, esperando o temporal cessar. O toldo de uma igreja evangélica é que os protegia ralamente. Pelo aspecto, mãe, pai e as cinco crianças provavelmente eram moradores de rua. A imagem corta o coração. Contudo, a mãe, professora, faltando cinco minutos para entrar na sala de aula, tinha obrigações. O que estava ao alcance era condoer-se pela miséria estampada nas sete faces.

Minutos depois, a filha, vestibulanda, chega. Abre o portão. Fecha-o. Entra. O almoço estava à mesa. Avisara que iria comer em casa.

Do outro lado da rua, a mulher levando os cinco filhos, atravessa a movimentada avenida e vem bater na casa. Conforme combinado, o marido fica onde estava. "Pode assustar a menina", a mulher o aconselhou.

A vestibulanda ouve o chamado, mal tinha trocado de roupa.  A visão da família miserável a choca. Muito mais que a madura mãe, sente-se presa à necessidade de ajudar, logo que as queixas são apresentadas: "Eles estão tomando chuva. A gente pode esperar o temporal parar?". O portão foi aberto. As crianças invadem a casa. A menina providencia, a pedido, um agasalho para a criança menor, cuja camisa está ensopada.

No interior da cozinha ou na parte coberta da garagem, a família comporta-se. Às crianças são dadas bananas, pães e água para suavizar a fome implacável. Troca-se uma ou outra palavra. Crianças sempre crianças, algazarra. A mulher mantém a rédea curta. Agradece muito a boa alma da jovem. A chuva diminui. Partem.

À tardinha, a mãe quase tem um princípio de infarto. "O quê? Você abriu a casa para estranhos?", primeira reação. A mãe, contudo, compreendeu a boa intenção e as circunstâncias. Pede, porém, que a menina toma cuidado. Infelizmente poderia ser um golpe e daí o perigo.

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