A volta de Antônio Dó

Jornal O Norte
Publicado em 15/02/2007 às 09:56.Atualizado em 15/11/2021 às 07:58.

Manoel Hygino dos Santos *



O programa já está definido: no dia 7 de fevereiro, em Brasília, lançamento na sede da Associação Nacional de Escritores, à noite; no dia 14, em Montes Claros, no Automóvel Clube, também à noite; no dia 15, em São Francisco, MG, no Centro Cultural; no dia 16, finalmente, lançamento na Chapada Gaúcha, de 19 às 23 horas, na Câmara Municipal.



O convite é da Associação Nacional de Escritores, a nossa ANE, da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco, a Aclesia, a Academia Montesclarense de Letras, também nossas, do IHGMG - Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.



A agenda não inclui Belo Horizonte, mas contemplou cidades ligadas intimamente à saga de Antônio Dó, considerado o homem mais temido de extensa região do norte de Minas, Urucuia, Paracatu e a hoje Brasília. Tudo para o lançamento de “Serrano de Pilão Arcado - A saga de Antônio Dó”, um romance histórico, que tem no seu âmago o nome e os efeitos do bandoleiro, herói para não poucos brasileiros daquele território.



Mineiro das barrancas do São Francisco, rio que dá nome ao lugar em que nasceu, Petrônio Braz resgatou a lenda de Antônio Dó, que pôs aquele pedaço brasileiro em polvorosa durante extenso período dos século XIX e XX. Escritor conceituado, advogado prestigioso e mantenedor de uma editora dedicada ao mundo jurídico, Braz sabe, talvez, mais do que qualquer outro mineiro, com riqueza de pormenores, a respeito de Antônio Dó, suas origens, suas lutas, os enfrentamentos com a polícia, seu relacionamento com os moradores do sertão de Minas e da Bahia. Ninguém melhor do que ele, pois, para descrever o mundo conturbado do personagem.



O ambiente é o Rio São Francisco, Nilo sem mistérios e sem esfinges, que esconde, no pardacento de suas águas e nos langores de sua existência, um mundo de vidas que ele alimenta no fundo de suas águas e no verdor de suas margens, como conta Braz em outro de seus livros.



Para aqueles lados, Antônio Dó foi uma espécie de soberano rústico, com coroa de chapéu de couro, que formou um exército de jagunços, recrutados no sertão de Minas, e de cangaceiros do Nordeste, agindo sem dó ou piedade e que não davam o mínimo valor à vida humana. Não valorizavam sequer as próprias vidas, não acreditavam na justiça dos homens, faziam-na com as próprias mãos.



Celebrizou-se Antônio Dó, dotado de fôlego de sete gatos, homem de sangue no olho, que enfrentava a polícia de igual para igual, que conhecia os segredos do campo, inspirador de cantiga de roda nas folias.



Dó não fazia malvadeza, ao contrário dos soldados de polícia, que roubavam e matavam. O povo da região tinha mais medo do Felão, oficial da PM, do que do bandoleiro. Em “Jandaia em tempo de seca”, Petrônio Braz descreve Antônio Dó:



- Era baiano, mais diz qu’ele tinha sangue de índio. Hoje não tem mais homens como esse Antônio Dó. Não é só pela civilização, não. É que a fibra dos homens está acabando. Tem gente por aí que arrota valentia, mas corre com o revólver na cintura. Até se esquece que tá armado.



Muitos perseguidos pela polícia não eram criminosos. O seu comportamento deveria ser analisado pelas causas que os motivavam. Eram vítimas de perseguição política. O livro que nasce resulta de prolongada pesquisa do autor e do conhecimento acumulado desde a infância. Petrônio é filho de Brasiliano Braz, denodado estudioso daquela extensa e sensível região. Disse ele:



- Antônio Dó nunca foi vencido. Numa sepultura rasa, nos rincões da Serra das Araras, dorme agora o sono da eternidade. Os seus feitos são, ainda hoje, o entretenimento, um dos temas dos sertões ao pé do fogo, nos lares humildes do sertão mineiro.



O tenaz pesquisador Saul Martins completa: “O quartel general de Antônio Dó era o pequeno arraial de Santo Antônio, ao pé da Serra das Araras, nas primeiras vertentes do rio Pardo. Sua fama corria. Nas plagas urucuianas todos lhe queriam, por afeição ou medo de suas iras”.



* Extraído do Hoje em Dia, 06.02.2007


colunaMH@hojeemdia.com.br

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por