Cynthia Bernis
O tempo está marcado nas suas formas. Saia branca, longa, estampada com flores, camiseta com a foto de Eduardo Lima. Batom vermelho nos lábios. Cabelos grisalhos e presos. Uma mulher simples. Entra Ligia na igreja procurando encontrar um rosto amigo, procurando encontrar um pouquinho do seu amor que foi embora.
Fiquei observando aquela mulher... Lembrava-me dela no velório dele!
Assistiu a missa dos 30 dias que ele nos deixou, comungou e ficou ali, sozinha.
Finda a missa, chamei-a pelo nome: Ligia! E ela correu até onde eu estava. “Você me conhece?”, ela perguntou, feliz por encontrar alguém. Apresentei-me. Contei para ela um pouquinho das histórias que Eduardo havia me contado a seu respeito.
Naqueles poucos momentos, naquele encontro, descobri, muito rapidamente, que eu não sabia de nada e que acabara de constatar algo fascinante. Ela, Ligia, nutria um amor verdadeiro por Eduardo.
Ligia contou-me da sua saudade e que chora todos os dias. “Você não fica com ciúmes, fica?”, ela indagou. Falou que fica esperando ele aparecer para ela e dizer que está bem e que está feliz. Falou que acompanhou sua convalescência e que queria tanto tê-lo visitado.
Falamos do último aniversário dele que, por coincidência (ou não), foi um ano antes do dia que completaria um mês que partiu. Contei para ela um momento íntimo daquele dia, em 02 de fevereiro de 2012. Eduardo chegou em casa, depois de gravar um programa da TV Alterosa, com um embrulho na mão, emocionado e disse: “A Ligia me encontrou!”
Ligia, durante 30 anos de amor sem medidas, procurava Eduardo por todos os locais. Sempre estava na porta de todos os lugares que ele trabalhava ou apresentava-se. Sempre!! Ela levava-lhe presentes e admirava-o. Amava-o platonicamente. Arrumava-se para vê-lo. Contou-me: “Cortava o cabelo, comprava roupa nova...”.
Ligia, por quase dois anos, havia ficado sem contato com seu amor, mas nunca deixara de procura-lo. Naquele dia, ao assistir o programa da TV que era transmitido ao vivo, correu para a porta da emissora. Tinha nas mãos um presente de aniversário - uma camisa, que foi comprado com antecedência, com dinheiro guardado durante todo o ano. Ela sabia que entregaria para ele e conseguiu! Abraçou-o muito e beijou! A camisa que usava ficou marcada de batom.
Já em casa, Eduardo abriu o embrulho e estendeu a camisa no sofá. Seus olhos ficaram cheios de lágrimas. O presente de Ligia era muito mais que uma camisa. Era uma prova e o reconhecimento, por parte de Eduardo, de um amor verdadeiro!
Ligia e eu, depois de conversarmos algum tempo, ali na porta da Igreja Nossa Senhora das Dores, abraçamo-nos e choramos juntas a nossa dor, nosso luto.
Caminhei até o carro. Ela me seguiu. Chovia... Falei com ela ao entrar no carro: “Abre a sombrinha! Você está ficando molhada!” Ela sorriu. Abriu a sombrinha. Arranquei o carro e ela saiu caminhando. Acompanhou-me virando seu corpo para olhar-me. Acompanhei-a pelo retrovisor do carro.
Nossa dor era a mesma! Encontramos Eduardo, uma na outra.
