Por Pe. Gledson Miranda de Assis
“A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se ‘virtude da religião’. Para com os homens, ela dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas relações humanas a harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum. O homem justo, muitas vezes mencionado nas Escrituras, distingue-se pela correção habitual de seus pensamentos e pela retidão de sua conduta para com o próximo. ‘Não favoreças o pobre, nem prestigies o poderoso. Julga o próximo conforme a justiça’ (Lv 19,15). ‘Senhores, dai aos vossos servos o justo e equitável, sabendo que vós tendes um Senhor no céu’ (Cl 4,1)”. (Catecismo da Igreja Católica, nº 1807)
Entre os diversos ideais humanos, a justiça tem tido sempre, desde os tempos antigos até os nossos dias, um lugar de evidente consideração. Um mundo no qual reine a justiça constitui, tanto hoje como no passado, um dos objetivos pelo qual a humanidade inteira suspira. Assim como a liberdade, a paz e o amor, a justiça faz parte do seleto grupo dos anseios mais profundos do ser humano e é, em certo sentido, condição de possibilidade para a existência dos outros anseios.
A justiça não é uma ideia meramente jurídica, mas uma virtude moral própria do ser humano. Na verdade, parece impossível identificar a justiça como específica de uma determinada concepção das coisas, mas sim como bem comum da própria humanidade. Contudo, a construção e vivência da justiça, nos tempos atuais, constitui-se um grande problema. Nossa sociedade tende a subtrair-se à justiça, fiando-se em demasia nas “seguranças” forjadas pelo desenvolvimento da tecnociência. Neste contexto de tamanhos desafios sócio-político-econômicos, novas instâncias emergem, exigindo novos direcionamentos para a prática da justiça.
Hoje em dia muitas coisas motivam a preocupação do ser humano. E dentre tantas, parece haver poucas que, de modo bastante estreito, não se relacionam com a questão da justiça, uma vez que o mundo hodierno grita por justiça. Isso podemos ilustrar com a luta constante do povo em favor dos seus direitos diante de tamanha desigualdade social existente atualmente. Mais recentemente, temos os casos da inúmeras manifestações ocorridas por todo o Brasil, todas de iniciativa popular, em busca de seus direitos e de melhores condições de vida.
Fica patente que ser justo é um dever de todo ser humano. Cada indivíduo tem, pelo simples fato de existir, o direito inalienável de ser reconhecido em sua dignidade e naquilo que lhe é devido. Do ponto de vista moral, o papel da justiça fica firmemente declarado: dar a cada um conforme o seu “suum” específico. Contudo, não basta apenas ser justo; também faz-se mister lutar pela justiça, sobretudo numa sociedade como o nossa que, não obstante o progresso, é marcada por inúmeras injustiças que clamam por resolução urgente. De outra parte, percebemos também que não basta lutar pela justiça sem ser justo com os outros. Muitas vezes fazemos manifestações por nossos direitos mais não respeitamos os direitos dos outros, o que denota clara hipocrisia, tão condenada por Jesus nos Evangelhos.
Percebe-se que nos dias atuais, influenciado pelo desenvolvimento “tecno-social”, há uma tendência em vilipendiar a justiça como virtude e exaltar a soberania da ciência e dos seus benefícios, o que consiste num grave engodo cujas consequências presenciamos em nosso meio: corrupção, violência, pobreza etc. Diante dessa realidade, a educação para a justiça – como virtude moral – converte-se num dever de capital importância, que deve ser incentivada e cultivada pelos órgãos sociais competentes, bem como por todos aqueles que se julgam e se dizem cristãos de fato.
