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Quinta-Feira,26 de Dezembro

A verdade está na cara - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
Publicado em 20/07/2007 às 11:47.Atualizado em 15/11/2021 às 08:10.

Neumar Rodrigues *



Uma boa parte das atividades humanas, além de produzir um resultado imediato, mostra seus efeitos a médio e longo prazo. Muitos acontecimentos, tanto em caráter individual quanto em termos de Brasil, são conseqüência de atos ou omissões referentes ao passado. Fala-se muito em investimento para se expressar que ações do presente devem preparar melhores resultados para o futuro.



O que dizer então da criminalidade disseminada em quase todas as cidades brasileiras, onde a vida humana vale tão pouco, e todos são vítimas indiscriminadamente; o que dizer de nossas crianças que não têm um lar, não recebem amor, vivem longe de escolas, muitas delas vivendo nas ruas como forma de sobrevivência; o que dizer do tráfico de entorpecentes nas favelas do Rio de Janeiro, onde quem manda são os bandidos ou policiais que passaram para o lado de lá, e a lei que impera é a lei do mais forte; e o que dizer de nossos políticos que entra ano sai ano roubam descaradamente e são sistematicamente reeleitos; o que dizer do presidente do senado, como se não bastasse seu passado desabonador, com patrimônio completamente incompatível com seus ganhos, e que diante de nova denúncia é protegido por aliados vindos de todos os lados, interessados em manter em cargo estratégico alguém que facilita interesses escusos.



Que tipo de gente é essa que se empoleira no poder e lambuza com suas imoralidades as instituições do Brasil, num verdadeiro escárnio ao povo trabalhador e sofredor; o que dizer do Judiciário que é extremamente eficiente em condenar e colocar na cadeia pessoas humildes, mas tão leniente com criminosos contumazes (muitos deles políticos); o que dizer do Supremo Tribunal Federal (STF), tão eficiente em manter seus próprios privilégios e altos salários, mas cego diante de atos de poderosos que aviltam a Constituição Federal, recusando-se sistematicamente a condená-los. Como diz Arnaldo Jabor: “Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas.



Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira. Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, claro que não esquecemos a supressão, a proibição da verdade durante a ditadura, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada”.



Estamos colhendo o que semeamos ou deixamos de semear. O desenvolvimento de um país e de seu povo exige atos sérios, ações duradouras e os frutos são colhidos muito mais tarde, às vezes em outra geração. Mas os políticos são míopes. Eles têm pressa,  precisam dos resultados até as próximas eleições, pois estão de olho no próprio umbigo e interesses de seus financiadores de campanha. A eles interessam as estatísticas e os números, pois acreditam que com esses números convencerão os eleitores. Nessa lógica perversa, não importa a qualidade do ensino, mas quantos alunos estão nas escolas; não importa como o dinheiro será gasto e sim as obras e o valor financeiro anunciado; não importa também o custo para o país dos políticos e seus aliados, mas sim a importância de sua existência para a democracia. A verdade é que o bom povo brasileiro tem sido extremamente paciente com políticos ladrões e instituições que funcionam para defender interesses dos poderosos.



Está mais que na hora. Muda Brasil!



* Jornalista

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