Por Laura Conrado
Antes de me dedicar aos livros e ganhar a vida como escritora, trabalhei em várias redações e assessorias como jornalista. Sei o quanto é difícil encontrar boas pautas e boas personagens para compor as matérias. Nessas horas, valemos de amigos, telefone e perfis na internet para encontrarmos fontes. Eu conheço a tensão de arrumar entrevistado.
Coisas poucas convencionais acontecem comigo. E eu adoro! Uma conhecida jornalista, que faz pautas muito loucas para um portal, me escreveu pedindo fontes para uma matéria sobre compulsão em roer unhas dos pés. Outra vez, perguntou se eu conhecia algum homem para falar sobre sensibilidade nos mamilos. (Hello?) Sugeri que ela mudasse de emprego. Imagino que um papo com o editor dela possa me render boas premissas para livros. Ô sujeito criativo, nunca pensei em pautas como essas.
Recebi, pouco tempo atrás, o e-mail de um jornalista que não conheço pessoalmente. Senti, nas linhas, o tom de desespero. Ele perguntou, já que escrevo majoritariamente para o público feminino e que publiquei um livro teen, se eu não teria alguém de até 20 anos, que passou por uma cirurgia íntima, para indicar.
“Será que a Geisy Arruda leu algum livro meu?”
Tudo bem que recebo muitas mensagens de leitoras contando problemas nos namoros (ou da falta deles), com os pais, no trabalho e consigo mesmas, mas acredito que nunca serei tããão íntima delas a ponto de saber detalhes técnicos das genitálias. E, obviamente, não desejo saber.
Tenho uma amiga muito desbocada, daquelas que dizem logo que a roupa não favoreceu e que o cara não está na sua. Quanto mais estreitamos a convivência, mas ácida ela fica. Ao contrário do que muitos pensam, ela não é estúpida. É superlegal, mas franca. E como há anos somos amigas, há espaço para sinceridade entre nós. É a famosa intimidade. Recomendo dar dinheiro, mas não dar a tal da intimidade.
Assim que recebi o e-mail sobre a cirurgia íntima, tuitei. Minutos depois, recebo uma mensagem da minha amiga porta. “Essas coisas acontecem com você porque dá intimidade.”
