Ronaldo Duran
Escritor
Estava ele à espera há uns bons minutos. Pessoas indo e vindo. Do banco de plástico duro, o rapaz mirava a pressa que se traduzia nos esbarrões esporádicos entre transeuntes no terminal de ônibus de Campo Grande, bairro da zona Oeste do Rio de Janeiro. O adolescente passa o tempo ouvindo conversas paralelas. Numa das caixas de som, uma música da banda preferida. Nesse ano de 1986, houve ótimos acontecimentos em sua vida. Uma delas foi encontrar a primeira namorada.
Ela, um ano mais velha. Empregada num escritório, todo dia tomava o fretado rumo a Avenida Rio Branco no centro da cidade, por volta das seis horas da manhã. E retornava por volta das dezenove horas, no mais tard ar às 20h. Para muitos, uma vida sofrida. Contudo, em relação aos milhares de cariocas cujo transporte para o centro da cidade limita-se aos indignos trens lotados, ela estaria na qualidade de pessoa privilegiada, seguindo para seu trabalho em sua poltrona acolhedora.
Apesar de somente um ano de diferença, a menina manejava a relação como uma experiente irmã mais velha. Ele, rapaz interessante desde o início, pensava ela, por ser simples, sorriso verdadeiro, corpo atraente, fala empolgante. Ela gostava de estar ao seu lado. Quando se conheceram? No clube, domingo à noite. Ele empolgado no rock nacional, ela querendo relaxar. Coincidindo em gostos, trocaram ideias. E ficaram juntos. A partir de então, marcaram de se encontrar no terminal rodoviário de Campo Grande. Não era um namoro oficial, era para se conhecerem e trocarem afagos.
Independente, ela se sentia balançada na relação fortuita. A experiência de outros namorados e agora iniciar um rapaz que pela primeira vez se envolvia com uma garota, a fez gostar da posição de condutora.
O estudante, vivendo à custa dos pais, nem por isso mais feliz, via na menina um apoio para adentrar na fase adulta e provar que é capaz de libertar-se da dependência financeira e de mil outras inconstâncias que perpassam por sua cabeça. Ela era mais que um corpo acolhedor, lábios sedosos. Tinha a pa ciência de escutá-lo, inclusive indicando caminhos para solucionar ou contornar conflitos que o perturbavam.
Mas a relação acabou. Ela dissera que tinha arranjado um namorado, ou coisa assim. Ele não se lembrava muito bem. O fato é que pediu para que não a esperasse mais no terminal. Que dureza! Agarrado que estava àquela menina. Como era garoto, sofrera, desesperara-se, porém, superara o baque. Numa noite, uma colega da rua o achou legal e trocam idéias e afagos.
Que bom ter alguém... A melhor cura para um amor que termina é a disposição para o outro amor que começa.