A linguística e o ensino do português

Jornal O Norte
Publicado em 03/06/2011 às 08:41.Atualizado em 15/11/2021 às 17:28.

Luiz Carlos Amorim (*)



A linguística estuda as maneiras de se falar uma língua em diferentes regiões onde ela é adotada. Então falar, seja como for, é uma questão linguística. Isso quer dizer que a linguística respeita os diferentes modos de falar uma língua, o que não quer dizer que ela sugere o abandono da gramática, do ensino da normas de bem falar e bem escrever o português, por exemplo.



Pois na contramão disso, ao invés de dar condições às escolas de ensinar aos nossos estudantes a boa e velha gramática para que eles possam se comunicar e possam comunicar o que pensam a todos, o MEC – Ministério da Educação, comprou 485 mil exemplares do livro “Por Uma Vida Melhor”, da coleção “viver, aprender”, de Heloísa Ramos, e distribuiu a milhares de alunos da rede pública.



Pois o livro em questão prega que falar “nós pega o peixe” ou “os menino pega os peixe” é uma maneira correta de falar e quem disser o contrário é preconceituoso, está praticando “preconceito linguístico”. Ora, vivemos insistindo que a qualidade de nosso ensino fundamental e médio deve melhorar, para que nossos alunos aprendam efetivamente a ler e escrever – mais que isso, que entendam o que leem e consigam se comunicar, se fazer entender ao escrever um bilhete, uma mensagem, uma carta. E aí vem o Ministério da Educação, que deveria primar pela boa qualidade do ensino no país, e gasta  uma cifra enorme do dinheiro público para comprar um livro que apregoa o assassinato da língua portuguesa, mais do que já foi feito até aqui? Poderiam ter usado todo esse dinheiro para pagar melhor alguns professores.



Semana passada, ainda, escrevi sobre a possibilidade que aventaram, recentemente, de levar o “internetês” para a escola, o que já seria um aviltamento generalizado da língua. Agora me aparece essa notícia, dando conta de que o MEC comprou uma fortuna em livros que não ajudarão em nada os estudantes no aprendizado de um bom português, muito pelo contrário: dá passe livre para que as pessoas falem do jeito que bem entenderem. Consequentemente, vão escrever assim também.



Enquanto, de um lado, tenta-se unificar a língua portuguesa em todos os países onde ela é o idioma oficial, no Brasil adota-se a reforma, mas o governo distribui “obra” desobrigando nossos estudantes de primeiro e segundo grau e os cidadãos em geral de aprender e praticar o português correto.



Com a educação já falida neste nosso país, com novas modificações aprovadas para o Ensino Médio e para o fundamental também, mais este livro distribuído igual bala aos alunos das escolas públicas, a luz no fim do túnel fica cada vez mais tênue.



(*) Escritor

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