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Sexta-Feira,27 de Junho

A importância do vice

Jornal O Norte
Publicado em 30/04/2009 às 09:33.Atualizado em 15/11/2021 às 06:57.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Dirigente da ASPOMIL



O Brasil se depara, novamente, com a indesejável moléstia colocando-se como aterrorizador fantasma na atividade política. A ministra Dilma Roussef, virtual candidata da situação à presidência da República, aparece agora com diverticulite, a mesma doença anunciada como o mal que levou Tancredo Neves para o túmulo. Felizmente, Dilma não tem a mesma gravidade de Tancredo, pois – pelo que se sabe – descobriu o problema e imediatamente passou a tratá-lo. Mas o quadro remete à grande preocupação representada pelo vice. Se ele for alguém da mesma estirpe do titular, o eleitor, o país, o estado ou o município nada perdem se o titular, por alguma razão, acabar impedido de exercer o mandato. Mas, se for o contrário, que decepção!



O Brasil já viveu, em 1985, o drama de Tancredo Neves, a “bandeira da esperança”, primeiro civil eleito depois de mais de duas décadas de governos militares. Sorte que seu vice era José Sarney que, embora egresso das hostes do governista do desgastado PDS, foi alguém que rompeu com o regime e fez um governo voltado para a redemocratização. Mais recentemente tivemos, em São Paulo, Geraldo Alckmin como vice e sucessor de Mário Covas e, ainda no último mandato, Gilberto Kassab assumindo a prefeitura paulistana para que José Serra pudesse concorrer e eleger-se ao governo do Estado. Se os titulares tivessem se contentado com vices apenas “pró-forma”, ao povo que os elegeu sobraria apenas a frustração.



A República brasileira deve ter tido inúmeros casos de líderes que esconderam suas doenças para não serem alijados do processo sucessório. O mais notório é o do respeitado senador Petrônio Portela, do Piauí, que foi líder do governo no Congresso, Ministro da Justiça e pretendente à sucessão presidencial. Como naquela época havia a crença de que cardíacos não podiam ser presidentes, escondeu a sua cardiopatia e acabou morto em 1980, por um ataque cardíaco inicialmente anunciado como um choque anafilático. Irônicamente, o presidente João Figueiredo, a quem Portela servia como ministro por ocasião de sua morte, foi operado do coração, em Cleveland (EUA), três anos depois.



Por episódios nacionais, conhecidos de toda a comunidade e outros estaduais e municipais, de menor repercussão, é importante termos em mente que, pela sua essência, o cargo de vice é tão significativo quanto o do titular. Principalmente porque ninguém é capaz de prever o quê acontecerá com o eleito ao longo dos quatro anos de seu mandato. Se o titular morre, é cassado ou sofre qualquer impedimento ao exercício do cargo, quem assume é o vice. E se ele não tem a estatura compatível ao posto, a frustração é inevitável e quem sofre é a comunidade. A presença de um fantoche ou financiador de campanha, no lugar de alguém que foi eleito e efetivamente representa a população é uma verdadeira tragédia. Por conta disso, as lideranças e todos os que têm possibilidade de influenciar na escolha do vice (a presidente, governador ou prefeito) têm a obrigação de lutar em favor do melhor nome também para o cargo de expectativa. Se, de repente, o vice acaba se transformando no “cara”, será um grande desperdício se ele não for alguém capaz e aceito pela comunidade...

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