Por Manoel Hygino
Trazer médicos do exterior para suprir o mercado consumidor existente no interior do Brasil. Este um dos projetos do governo para atender necessidade básica. Não é solução tão fácil como se imagina. Gente é gente, doença é doença, o país é grande e as dificuldades de comunicação ainda são notórias, a despeito de avião, automóvel e telefone, por exemplo.
Uma dorzinha pode exigir ultrassonografia e o aparelho mais próximo fica distante. Não é só a máquina: exige ultrassonografista, com conhecimento específico para determinados casos. Se se precisar de uma tomografia, a solução está mais longe. Um equipamento de tomografia computadorizada custa bom dinheiro, requer especialistas para a operacionalização e interpretação do que se fotografa.
Quanto reclama em investimentos uma hemodinâmica, uma ressonância magnética, nem estou falando em medicina nuclear. A medicina é cara, as distâncias longas, impõe crescentemente saber cada vez mais a respeito de menos e menos. Lembraria Huxley.
Evitei referir-me a CTI. Se alguém necessitar de instalações de Centro de Tratamento Intensivo tem de penar para conseguir uma vaga, mesmo nas capitais. Médicos, de quaisquer nacionalidades, sofrerão com um paciente em condições graves. Depois, como transportar o doente para cidades com essas unidades, em que muito se confia ser a salvação?
O interior é pobre em assistência à saúde, muito mais do que se pensa. Cidades menores não contam sequer com radiologia, um laboratório de análises clínicas.
O que antes se fazia, quando se conseguia, e até hoje, é nomear médico para o interior, mediante proteção política e pistolão. Um profissional-escritor, Waldemar Versiani dos Anjos, conta em ficção, não tanto ficcional, suas agruras, venturas e desventuras, de jovem médico na minguada Serra Verde, em Minas. Havia um consolo: “A gente era boa de um modo geral, e estava alegre com seu novo médico”. “Feio e magro doutor, que as donzelas engordavam em devaneios e, no mais, tratavam de enredar e apanhar”.
Casamentos ajudavam no apego à terra, seus hábitos, seus carinhos e belezas. Os tempos são outros e as exigências públicas cada vez maiores. Ciência e tecnologia existem, aprimoram ininterruptamente.
Não só médicos nos faltam.