Adilson Cardoso
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Segundo o nazista Joseph Goebels, uma mentira contada cem vezes é verdade. Concordo em parte, mas quero dizer que essa tática não funciona com o dinheiro. Pelo menos para mim, aquela velha máxima bíblica que foi um chicote religioso para impedir o crescimento do pobre na questão financeira, caiu por terra.
Ao falar que é mais fácil um camelo passar no fundo da agulha que um rico entrar no reino dos céus, sabemos que o dinheiro compra um lugarzinho lá também. Quem discordar pergunte à senhora indulgência, que era a própria encaminhadora das almas. Quero fazer um pedido aos infelizes com o dinheiro que andam dizendo que este não traz felicidade, que mandem para mim e, por favor, não tenham pena se eu ficar louco contando as notas e moedas dos milhões recebidos.
Se, por acaso, me der saudade de andar no ônibus lotado, pegar mototaxi na chuva para chegar ao destino com a roupa enlameada nem se eu resolver passear pelas depressivas praias de Fernando de Noronha, ou nas medonhas dunas de Genipabu. Talvez também apareça nas colunas sociais abraçado com alguém importante e fingindo um sorriso sem graça.
Ainda em nome da benevolência para que o nobre milionário infeliz não se sinta assim, vou ao Egito visitar Quefren, Queops e Miquerinos. Em seguida vou a Paris conhecer o Louvre e ver de perto o enigma de Monalisa. Realizarei o sonho de conhecer George W. Bush e dizer que ele é o ser mais desprezível que existe.
Com tudo isto, prometo que farei o possível para não lembrar as prestações intermináveis dos eletrônicos ou das filas na casa lotérica que usava para pagar as contas. Menos ainda dos bolões que consumiam os trocados da cerveja do final de semana, em busca da sorte. Só não farei parte da sociedade dançante da cidade, aquele bando de plásticas ambulantes que fofocam a noite inteira ao pé do ouvido da outra, sobre os vestidos, os penteados e as bolsas de couro falsificadas.
Vou comprar dentaduras e distribuir às bocas fechadas por timidez, para que aumentem os sorrisos em todos os lugares. Esta é a receita para ser rico e feliz sem esquecer de roer pequi e ir no mercado aos sábados. É isto, o dinheiro traz felicidade sim. Infelizes são os esquecidos pelo INSS, que vegetam passando fome, e aqueles que domem sob o teto da lua por não possuírem dinheiro para pagar o aluguel.