Felippe Prates
Destamparam a tampa do esgoto do “Circo” da Fórmula 1. Apanhado em mais uma de suas tantas velhacarias, Flavio Briatore, o “capo” da Benneton, partiu logo para um golpe baixo, batendo forte e abaixo da linha da cintura na família Piquet, que o denunciara pela tramóia no GP de Cingapura, do ano passado. Ao insinuar, maldosamente, que Nelsinho Piquet é homossexual, Briatore faz seu pai, Nelsão Piquet, provar do próprio veneno – “remember?” – numa declaração igualmente irresponsável do tricampeão em relação a Ayrton Senna, em 1988.
O “circo” da Fórmula 1 ferve e fede. Não é sem razão que, bem lembrou o jornalista Carlos Leonam, sempre foi conhecido entre os que o freqüentam, como “Piranha’s Club”.
A farsa armada pela Renault, em Cingapura, choca pela ousadia de toda trama abjeta e maquiavélica. Mas, convenhamos, provocar acidentes e que tais está bem longe de ser um crime tão raro nas pistas.
Quem não se lembra do francês Alain Prost fechando a porta para Senna, em Suzuka, provocando o choque entre as duas McLaren em 1988? O troco veio rigorosamente na mesma moeda, no ano seguinte, também no Japão, com Ayrton abalroando a Ferrari de Prost, logo na primeira curva. Nos dois casos os vilões conquistaram os títulos e nem foram, sequer, advertidos pela FIA.
Manobra idêntica fez o alemão Michael Schumacher, em 1994, jogando sua Benneton, já avariada num toque contra um muro na curva anterior, contra a Williams do inglês Damon Hill. Com isso, garantiu o título na Austrália. Já na Ferrari, Schumacher tentaria repetir a manobra, contra o canadense Jacques Villeneuve, da Williams. Mas, nessa ocasião, no GP da Europa, em Jerez de la Frontera, o último da temporada, o alemão não foi bem sucedido. Os carros se tocaram, mas a Ferrari de Schumy saiu da pista sozinha, acabando melancolicamente atolada numa caixa de brita. Villeneuve chegou em terceiro e, graças a esses pontos, conquistou o campeonato. Esta, foi uma das raríssimas ocasiões em que, na Fórmula 1, o crime não compensou...
Independentemente da culpa de Nelsinho Piquet, que aceitou fazer parte da farsa nojenta, o prontuário de Briatore o condena. Em 1994, ano em que morreu Ayrton Senna, os carros da Benneton, soube-se depois, eram equipados com o controle de tração que fora proibido naquela temporada.
- De fato, o equipamento estava lá, mas nunca foi utilizado. Não o acionávamos... – alegou o italiano, com a maior cara de pau, quando a FIA descobriu tudo e nada fez, já no final do ano.
Não custa lembrar que uma das maiores queixas de Ayrton, nas primeiras provas daquele trágico campeonato, era que, sem o controle de tração, os carros tinham ficado “nervosos”, difíceis de dirigir. Aliás, foi graças a mais uma falcatrua da Benneton de Briatores que Schumacher pôde ultrapassar Senna durante um “pit-stop”, no GP Brasil do mesmo ano.
Ayrton, que fizera a “pole” e liderava, entrou nos boxes na mesma volta que Schumacher, mas à sua frente. Ambos trocaram os pneus e fizeram o reabastecimento, mas o alemão saiu alguns segundos antes, tomou a ponta e venceu a corrida.
Descobriu-se, mais tarde, graças a um acidente que provocou um incêndio espetacular na outra Benneton, do piloto Jô Verstapen, que a bomba de combustível usada pela equipe Benneton, não tinha o filtro de segurança obrigatório pelo regulamento – e, por isso, injetava o combustível mais rapidamente que o normal!
Punição para Flavio Briatore e sua gangue? Nem pensar! A culpa foi jogada nas costas de um pobre mecânico que, embora inocente, perdeu o emprego.
A Fórmula 1 é, ou não é o autêntico “Piranha’s Club”?
O histórico dos mais variados golpes, mutretas e ardis criados por pilotos, chefes de equipe, projetistas e engenheiros, dentro e fora das pistas, é enorme. O que não falta no “circo” é artimanha para ludibriar os regulamentos, desconhecer a ética e vencer a qualquer custo.
Agora, para terminar, uma notícia bomba em absoluta primeira mão: Nelsinho Piquet, hoje “persona non grata” na F 1, sai do automobilismo e tentará o futebol! Seu destino é o Goiás, em Goiânia, perto de Brasília, onde mora seu pai. O técnico Hélio dos Anjos, radiante, diz que Nelsinho tem tudo para ser um grande zagueiro:
- Ele é veloz e obedece as ordens à risca. Especialmente quando o treinador manda bater...
Referência: Jornal “O Globo”.