A FORMATURA DO BAILE

Jornal O Norte
Publicado em 22/07/2008 às 22:11.Atualizado em 15/11/2021 às 07:38.

Márcio Adriano Moraes


Professor e Escritor


           



Depois de alguns anos, percebemos, em uma única noite, que as alegrias vivenciadas fazem parte apenas das lembranças. O desconhecido e a tão sonhada felicidade dileta surgem como rajadas de vento; nunca sabemos quando nem onde, apenas a certeza de que tal amena ventania chegará. Na última noite, após tantas, os olhos se abrem para formar dentro de si um baile venturoso.



As apresentações familiares são recepções de praxe e que inserem todos dentro de um mesmo laço. As diferenças dos apertos de mãos estão na intenção com que são realizados. Expectativas são criadas e absorvidas ao longo de taças de vinho. Nada mais justo que conhecer os entes com os quais o convívio diário far-se-á sublime.



Entretanto, não seria preciso saber o nome de ninguém. Apenas um. O nome do ser que trouxe para si toda a divina beleza e terrena também. A visão daquele preto contrastando com o findado rosa salmão não apenas combinava com o nó do pescoço, mas também com o corpo no qual estava aconchegado. Visão beatífica! Não estou dizendo heresias, estou dizendo palavras, cuja significação cai bem na cena vislumbrada.



Talvez o mais dolorido sentimento de seres amantes seja a distância que os separa. Não me refiro a distância física, pois os amores verdadeiros do peito ultrapassam cercaduras sejam simples cordas ou muralhas chinesas. A distância que arrasa é aquela que impendem os lábios de se tocarem ou das palavras sussurrarem aos ouvidos; o disfarce do sentimento quando amados devem ser tratados como simples amigos. Não poder chamar o outro de dóceis palavras, por vergonha, chamando apenas pelo seco nome de batismo ou aquele apelido comum a todos. “Meu bem” sufocado na garganta.



Mas, ao som de mecânicas músicas, chega uma hora em que os corpos explodem mais intensamente que vulcões e é irresistível controlar o desejo de querência mútua que contamina os seres amantes. A festa então sai da visão comum dos mortais e entra nos cúmplices olhos, formando um verdadeiro baile de amores. As Letras louvadas em taças de cristais e aclamadas com fervor são minúsculas frente ao silêncio dos lábios que se contraem em busca um do outro. E que venham os flashes e sorrisos de vitória e alegria. E que venha o sol iluminar noites escuras. Que a frieza da lua se converta em um quente sentimento genuinamente humano, pois é fogo que arde sem se ver...



A formatura deste baile de Letras, de amizades, de encantamentos seja para sempre recordada e cultivada na lembrança, local onde se guardam as alegrias. Já dançam dentro do corpo todos os sentimentos em uma constante valsa moderada. Uma vez formada, não haja nada que atrapalhe os movimentos e os passos dessa predestinada dança. E se houver ventos impetuosos, que eles apenas movam os laços do cabelo, trazendo mais beleza. Porém, se forem tão fortes capazes de retirarem o chapéu do cavalheiro; que este mesmo chapéu possa assentar em um outro senhor que, cedendo à vontade da progênie, devolva o chapéu ao seu predestinado dono. E que a bênção desse baile seja dada pelas mãos desse senhor e d’Aquele Senhor!

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