A formação do jornalista, segundo uma jornalista recém-formada

Jornal O Norte
Publicado em 26/07/2010 às 10:16.Atualizado em 15/11/2021 às 06:33.

Felicidade Tupinambá


Jornalista e presidente da Casa da Imprensa



Quis o destino que nós fizéssemos o curso de Jornalismo no momento em que toda a regulamentação da profissão parece ter ruído, ter caído por terra.  A decisão do Supremo Tribunal Federal de desobrigar o diploma para o exercício do  jornalismo, por si só, dispensaria a nossa presença aqui hoje, se não houvesse, entre nós, o consenso e a convicção de que desta vez equivocou-se a suprema Corte.



De tão absurda, tal decisão não tem desestimulado os cursos de jornalismo em andamento, nem tampouco os concursos públicos, que continuam a exigir a contratação de jornalistas formados.  Vale lembrar que em nenhum momento pensamos em abandonar o curso; nem mesmo aqueles que, como eu, já exerciam a profissão. Acreditamos que nos dias de hoje, em que a tecnologia se coloca a favor dos que se capacitam, a academia ainda é o lugar das grandes transformações, dos que querem fazer a diferença.



A comunicação mudou e especializou-se. A velocidade com que são processadas as  mensagens é mesmo impressionante. Pensar que com a internet, nunca na história da humanidade tanto saber foi  democratizado; que um sem número de redes de comunicação se forma a cada segundo, minimizando distâncias, transpondo obstáculos e aproximando pessoas. Por si só, estas transformações exigem comunicadores diferenciados, compatíveis com as novas mídias que estão surgindo.



Ser jornalista não é mais ter domínio da língua portuguesa e sair por ai com lápis e papel na mão, entrevistando e fazendo anotações.  Ser jornalista não é apenas responder às seis perguntas básicas do lead, essenciais a toda notícia: o que, onde, como, quando, porque e quem.



Portanto, não podemos tolerar o vilipêndio com que querem nos tratar, a precarização que querem impor ao nosso trabalho.   A Proposta de Emenda à Constituição, de número 386, que propõe que a Carta Magna passe a trazer de forma explicita que “a exigência de graduação em jornalismo e de registro do respectivo diploma nos órgãos competentes para o exercício da atividade profissional não constitua restrições às liberdades de pensamento e de informação jornalista”, acaba de ter seu texto aprovado no ultimo dia 14 de julho. Com isto a  PEC 386 está pronta para ser votada na Câmara e, posteriormente, no Senado.



O empenho da categoria é, portanto, extremamente importante durante todo este processo.  Que, por  intermédio dos deputados - e aqui quero pedir ao nosso patrono e ao nosso padrinho que intercedam por nós, pressione os líderes de bancadas para que  a votação seja incluída na pauta da Câmara o mais breve possível e depois no Senado. A ideia é concentrar esforços para que a proposta seja colocada em votação nos primeiros dias de agosto, quando da volta aos trabalhos após o recesso parlamentar.



Não temos dúvida de que com tal aprovação, o futuro da profissão será mais promissor e, certamente, os salários mais dignos.  Mas não escolhemos fazer jornalismo apenas pela condição financeira que uma profissão pode nos proporcionar. Escolhemos fazer jornalismo porque não gostaríamos de nos ocultar, vergar ou nos omitir diante da necessidade de esclarecer, denunciar e investigar os fatos, na busca pela versão mais próxima da verdade.



O direito à informação não é nenhuma criação de jornalistas, é direito constitucional. É na carta magna que nossa profissão tem fundamentação. Convivemos a cada dia com o desafio de uma página em branco e nos confrontamos a cada momento, graças a Deus, com a nossa ignorância sobre determinado assunto. O que nos leva a renascer e recriar, dentro de nós, o profissional que queremos ser.  Não padecemos da presunção de saber tudo ou saber demais.  Aprendemos, sim, por dever de oficio, a nos indignar, a não conformar e a duvidar sempre. 



Com raras exceções, porque alguns aqui já são jornalistas,  estamos agora, ao receber o diploma, prestes a tirar a carteira do sindicato e a sermos considerados, oficialmente, profissionais da comunicação. Quantos aqui não sonham com um futuro promissor?  Quantos não desejam se tornar redatores, colunistas, críticos, articulistas de um grande jornal; em comandar um programa de rádio; ser repórter ou âncora de uma emissora de televisão, ou fotógrafo de uma revista de repercussão nacional? E por que não sonhar também em ganhar muito dinheiro, viajar pelo mundo, ser correspondente internacional? Nós desejamos mudar o mundo com nossas canetas.  E sonhar, minha gente, não é pecado. Afinal, o que seria de nós se não fossem os sonhos?



São pontes que nos levam ao futuro. Mas não devemos nos  esquecer, que é o conhecimento adquirido que será o responsável pela realização desses sonhos. Portanto, o segredo para os que querem crescer no jornalismo é nunca interromper o aprendizado.  O professor Jair Bastos alertou-nos, numa avaliação de Trabalho de Conclusão de Curso, que a internet tem revelado muita gente talentosa, que escreve bem, como blogueiros, twiteiros; e não é razoável que eles sejam melhores que os jornalistas. Talvez seja este mais um desafio que teremos que encarar.



Portanto, escrevam muito, todos os dias. Escrevam à exaustão.  E como poetizou Mário Persona: “escreva como quem prepara um manjar dos deuses. E sirva acompanhado do néctar da paixão. Diversifique seus temas, pois não há dois leitores iguais. Nem mesmo um só leitor”. Leiam mais ainda porque só escreve bem quem lê muito.  Procure ser a melhor opção para aquela vaga que pintou.  Afinal, nenhum vento pode nos ajudar se não soubermos aonde queremos chegar. Portanto, não esperem que eu me despeça de vocês. Nossos sonhos, nossos planos, certamente, nos ensejarão outros encontros.



A construção da tão sonhada Casa da Imprensa do Norte de Minas nos espera e sei que poderei contar com todos vocês.  Por fim, não espero que vocês sejam presos ou investigados, mas me sentiria muito feliz de vê-los em trincheiras jornalísticas onde só os bons, só os verdadeiros farejadores da verdade, são capazes de chegar.  E, ao invés de despedir-me de vocês, eu gostaria de sugerir apenas um até breve.



Sucesso a todos!



(*) Texto adaptado de discurso proferido por ocasião do baile de formatura da turma de Comunicação Social/Jornalismo – Turma Alécio Cunha, em 16 de julho de 2010 - Funorte/Soebras.

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