Não há nada mais chato que a fila. Somos submetidos ao ritmo dos outros, quase sempre os atendentes não querem ou não conseguem fazê-la fluir e, considerando que bacana não a enfrenta, é claro que ninguém capaz de resolver se preocupa para valer. Mas, não tenho dúvidas, a fila é a coisa mais democrática do mundo. Só tem um critério: um atrás do outro – e pela ordem de chegada. Então, quando não há alternativa, resta torcer para que os colegas de espera tenham papo bom ou, no mínimo, gostem de ficar calados.
Dia desses, fui comprar ingresso para o show do Elton John. Vai ser o primeiro no Mineirão reformado e a experiência foi sofrida. Com aquele mundo de dependências, instalaram o quiosque em área desértica, no meio do nada, expondo os clientes a uma combinação de concreto e sol de 40 graus. Ah, como sempre acontece quando tudo está difícil, “o sistema saiu do ar”, aumentando o castigo. Por que tinha de ser assim? Será que alguém não pensou que em janeiro ou é sol a pique ou chuva torrencial?
Mas você sabe, caro leitor, quando os astros combinam de tirar a gente do sério tudo vem de uma vez. E não é que a fila estava repleta de chatos? Dou-me muito bem com os pobres e os ricos. Minha dificuldade é com a chamada classe média, não ela toda, mas, a parcela que se julga rica, importante, e precisa se afirmar... São sujeitos que precisam se exibir, então começam fazendo comparações de eventos, citam exemplos de experiências vividas no exterior, falam mal do Brasil e, sobretudo, mostram-se os mais preconceituosos... Se ainda não têm 60 anos, detonam os idosos que, dentro da lei, têm preferência para comprar ingressos; nunca viram um espetáculo no novo Mineirão, mas já preveem fracasso... E ficam ali, ao celular, ligando para o filho, a sogra, o amigo, falando alto dos planos e traçando estratégias de como conseguir comprovar que têm direito ao meio ingresso.
Elton John vale a pena. Gosto dele desde os tempos em que tinha mais paciência com os novos ricos e não conhecia detalhes de obras como essa do Mineirão, na qual os investidores entraram apenas com um terço do dinheiro e a garantia de que, se não entrar dinheiro o bastante para pagar as contas (e o empréstimo do BNDES) o governo põe... o nosso dinheiro!
Eduardo Costa - escreve no jornal Hoje em Dia