*Helder Caldeira
Funciona assim no Brasil de hoje: o cidadão assume por um tempo algum cargo de confiança em qualquer instância de governo, seja ela federal, estadual ou municipal; não importa muito qual seja sua função, desde que consiga ostentar alguma aura de poder ou influência (se você consegue algumas cestas básicas ou uns botijões de gás para doar, já está de bom tamanho!); nas fotos oficiais, ele busca estar cada vez mais próximo do mandatário, no melhor estilo “papagaio de pirata”; não precisa ter nível superior ou qualquer qualificação para o cargo, pois o que importa é o tamanho do seu QI (leia-se Quem Indica); nem precisa ir trabalhar todo dia, basta fingir que sabe dar ordens. Pronto! Conseguindo se manter ileso nas funções por 1 ou 2 anos (eu disse ileso, o que não significa honestidade), já deixa de ser um simples espertinho e passa a ter a famigerada expertise.
Pra que serve essa tal expertise? Corruptela do francês, que significa apreciação feita por especialistas, a expertise tornou-se o principal instrumento de avaliação curricular para aqueles que desejam ingressar no ramo das milionárias consultorias para a administração pública. Quanto mais nebulosa e mal explicada for a expertise, mais chances o cidadão tem de conseguir um acordão com algum dos partidos políticos no poder, reforçando ainda mais as cifras da prestação dos serviços. O esperto ganha um dinheirão e ainda alimenta maciçamente os cofres da camarilha, institucionalizando os desvios de recursos e legalizando a roubalheira. Se há uma forte expertise na liberação de recursos dos orçamentos, ainda são repartidos bônus espetaculares, curiosamente chamados de percentuais de sucesso.
Outro caminho de utilização da expertise é o mercado de palestras e conferências. Alguém decide realizar um grande evento e, para isso, solicita patrocínio a órgãos do governo e empresas estatais. Para que estes liberem o dinheiro, ficam condicionadas as contratações de palestrantes militantes por cifras altíssimas, em detrimento a cachês bem menores de profissionais realmente qualificados e com experiência no assunto e no mercado. Dessa forma, ex-ministros desempregados, ex-deputados cassados e até ex-presidentes vagabundos recebem verdadeiras fortunas para falar algumas bobagens durante menos de 2 horas para platéias iludidas.
Só para que se tenha uma ideia da dimensão da sacanagem, basta dizer que o empresário mineiro Marcos Valério, preso na semana passada em uma operação contra a grilagem de terras e um dos principais réus do escândalo do Mensalão no governo Lula, continua tranquilamente utilizando a sua expertise para prestar consultorias administrativas para órgãos públicos, estatais e empresas privadas com ligações com o governo. O carequinha, como dizia o ex-deputado Roberto Jefferson, continua fazendo fortuna com dinheiro público por conta de sua fabulosa expertise e graças ao Supremo Tribunal Federal, que quase 7 anos depois, ainda não julgou o caso.
Essa mesmíssima matemática vale para todo e qualquer bandido que carregue antes do nome a classificação de companheiro. Cientes do império da impunidade no Brasil, a companheirada segue prestando consultorias e realizando palestras e conferências nacionais e internacionais. São experts na arte da enganação, da malandragem e da corrupção. Foi exatamente por não conseguir justificar alguns milhões faturados em consultorias, que o ex-ministro lulo-dilmista Antônio Palocci caiu pela segunda vez. É também por uma consultoria de reles R$ 2 milhões que o queridinho ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, foi colocado nesta semana na linha-de-tiro pela imprensa.
No fim, os únicos profissionais cuja expertise não serve para absolutamente nada são aqueles que ocupam os cargos nos órgãos de controle governamentais e na Receita Federal, já que não conseguem descobrir nenhuma das inúmeras mamatas e deixam passar toda roubalheira por baixo de seus narizes, ficando as verdadeiras investigações e denúncias por conta da imprensa. Mas se você tem alguns bons contatos em revistas e jornais, fique tranquilo. Como diria o ex-ministro José Dirceu, outro expert, é só acertar por cima e ninguém mais fala sobre o assunto.
Você sabe roubar? Sabe desviar recursos públicos? Conhece técnicas especiais para meter a mão no dinheiro do contribuinte sem que ninguém perceba? Você sabe mentir? Então está esperando o que para abrir uma empresa de prestação de serviços e utilizar toda sua expertise em contratos milionários de consultorias governamentais?
