Natasha Campos
Estudante de Jornalismo em Belo Horizonte
O jornalismo vive um momento de incertezas em nosso país após a decisão precipitada e insustentável dos políticos neste mês. Será a decadência do jornalismo? Qual é o jornalista que os brasileiros e os políticos preferem? Um jornalista despreparado, um cidadão comum, treinado apenas para cumprir as regras textuais seguindo o padrão lead, respondendo no primeiro parágrafo as seis perguntas básicas: O que? Quem? Quando? Como? Onde? Por quê?.
Ou preferem um jornalista preparado academicamente para construir um ‘jornalismo de resistência’, com capacidade de buscar a imparcialidade com senso crítico e levar a seu público a informação relevante, apurada com profundidade, indo além da pauta.
Sendo estudante prestes a me formar e receber um diploma sem validação para exercer a profissão, escrevo em nome de toda uma classe que está ofendida por se tornar um amontoado, uma massa sem regulamentação. É um momento de angústia para os jornalistas. As justificativas dos políticos no Supremo Tribunal são essencialmente em sua maioria falácias.
A primeira delas foi a declaração do Presidente o STF que justifica seu voto esclarecendo que a exigência do diploma fere a Constituição e inibe a liberdade de expressão. Esse argumento não se fundamenta pois nunca antes tantas pessoas produzem informações como hoje, principalmente pela internet, além de existirem espaços para manifestações nos grandes veículos, mesmo que seja nos cadernos de opinião.
Outro argumento infundado citada pelos ministros é que com a era da internet e dos blogs, todos podem fazer jornalismo. Desde quando blog é jornalismo? Existem jornalistas que possuem blog, mas qualquer pessoa pode ter um blog. A internet é uma ferramenta multifacetada, ela não é apenas um meio de comunicação. É um grande equívoco todas as justificativas dos ministros que deveriam ter diploma obrigatório para atuar no cargo.
Neste mercado sobreviverá quem tiver qualificação profissional, títulos além da graduação, cursos extracurriculares, e competência para garantir o emprego que já estava super concorrido e restrito; agora ficará pior. É certo que os grandes veículos de comunicação não demitirão seus repórteres com formação profissional para abrir cursos técnicos na empresa e contratar jornalistas sem formação, mas a repercussão desta infeliz decisão dos políticos será impactante nos veículos pequenos de todas as cidades do interior. Por exemplo, a Rede Globo notificou que contratará apenas jornalistas com formação. O diploma não traz mérito ao profissional, este se avalia de acordo com a capacidade de competência profissional, mas é a garantia que o cidadão foi preparado na academia para o mercado. O aprendizado é a prática.
É necessário que não apenas os grandes centros urbanos, mas que todas as cidades façam mobilizações, debates, passeatas para repensar esse retrocesso e o futuro da regularização da profissão que por enquanto é uma incógnita. É importante discutir a qualidade do jornalismo, já que a partir de agora qualquer pessoa pode ser jornalista. E o piso salarial? Que é uma batalha dos sindicatos, vai diminuir devido à desvalorização da profissão? Em Belo Horizonte, no dia 3 de julho, as 10hrs, na assembléia legislativa acontecerá uma audiência pública para debater a decisão do supremo.