*Eduardo Costa
Um dos grandes pensadores da política na era do Iluminismo defendeu, no século 17, o contrato social, no qual o povo concorda em “obedecer à lei e respeitar a autoridade do soberano, cujo poder é indivisível e ilimitado”.
Mesmo acusado de antidemocrata, Thomas Hobbes continua presente nas discussões sobre as teorias da política porque, se ele escreveu seu “Leviatã”, em meio à guerra civil inglesa, nossa violência do dia a dia cria um clima semelhante de insegurança.
Mais que isso, são os argumentos de Hobbes que mexem com nossa cabeça porque ele é um escritor de uma época em que os filósofos trocavam a tradição de que todo poder vinha de Deus, através da igreja, para, dentro do pensamento racional, discutir a verdadeira natureza da condição e do comportamento humano.
E Thomas Hobbes disse algo desconcertante: “No estado de natureza, a condição do homem é a condição de guerra de todos contra todos”. Ou seja, sem um governante, forte, mataríamos uns aos outros.
Viajei quase cinco séculos para buscar algo que pudesse explicar os meus sentimentos diante de dois cliques recentes.
Ontem, ao mesmo tempo em que via no Hoje em Dia a foto do sargento jovem e saudável no lugar de idosos e grávidas – dentro do ônibus, recebia outra foto, feita por Thatiana Bandeira, na porta de um supermercado, na estrada de Nova Lima. O marido é deficiente visual e quase sempre tem de esperá-la dentro do carro, pois, as vagas reservadas para pessoas com necessidades especiais estão ocupadas.
Desta feita foi demais, porque um carro de polícia resolveu estacionar. Diz ela: “Minha sensação é de que essas vagas servem apenas para cumprir a lei, mas, quem é o fiscal dessa lei?”
E eu respondo com outra pergunta: Quem está fiscalizando o quê?