A cidade sonhada

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 30/07/2013 às 08:52.Atualizado em 15/11/2021 às 17:07.

Por Manoel Hygino


Saudosismo, talvez. Mas Belo Horizonte de hoje não é a que foi, embora não gostaríamos que parasse no tempo. Em verdade, não temos sabido preservar o legado de mais de um século de trabalho para construir uma capital digna do título. Inovamos sob múltiplos aspectos indiscutivelmente, mas não conseguimos educar a população para defendê-la e protegê-la.

O que se lamenta, a despeito do seu desenvolvimento, é que a cidade deixou de ser o que fora, para não conseguir virar o que sonhávamos. Jader de Oliveira, que aqui viveu em período dos mais generosos, anotou: “A cidade pequena, simples e devagar, foi tragada pelo progresso rápido, quase sempre afoito, que a transformou em metrópole de vida intensa – um dinamismo incontestável, às vezes pouco civilizado –, que nos faz sentir saudades daquele passado, quando éramos jovens!”

Sabíamos amar o burgo que nos acolheu ou em que nascêramos. Eis o mal dos conglomerados urbanos, que crescem além dos planos e projetos. Não se fale do Rio de Janeiro que se ampliou demasiadamente, sem cuidado, à beira da orla marítima. A capital, que foi de todo o Brasil, se expandiu pela baixada e pelos morros, gerando inapelavelmente o que hoje é: de extraordinária beleza, mas centro de marginalidade. São Paulo seguiu o mau caminho, mesmo com a pujança de sua economia.

Jader raciocinou como eu. Ao alcançar os anos 50, BH não seria ainda considerada uma metrópole, mostrava-se ainda afável e amorosa, fazendo-nos vê-la com olhos sempre zelosos. Depois, uma dor, como aconteceu em Goiânia, inaugurada em 1935, e Brasília, em 1960.

Registros da Secretaria de Estado da Cultura informam que Aarão Reis, autor do projeto original, queria que “a cidade, logo que tivesse o centro ocupado, fosse se expandindo para a periferia e que da periferia viessem todos ao comércio e ao lazer, na área central. Mas aconteceu justamente o contrário”.

A nossa estrela Thaís Garyp pranteou, há dias: “Nasci e fui criada no centro da cidade, brincando de corda e de queimado, descendo ladeiras em carrinho de rolimã, com meus irmãos, pela rua Tupinambás. Mas o centro está inviável: poluído, sujo, descuidado demais. Está podre e inseguro. A cidade cresceu muito, é verdade, mas o desenvolvimento custou muito alto a todos nós, moradores”.

A atriz e cantora, mesmo assim, se instalou no Carmo/Savassi. Agora, é esperar a nova dos atuais novos administradores. Ela merece do bom e do melhor.

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