Dener Versiani Kroger
Bacharel em Direito e sócio honorário da Aclecia
Destilando a vontade de falar e expressando os mais sérios sentimentos de percepção, nota-se que a coisa ocorre de ordem inversa ao citado, quando deparamos com uma administração que toma de assalto uma das praças mais tradicionais da cidade e asfalta ao seu redor, cobrindo seus paralelepípedos centenários só para formar uma ilha de calor insuportável neste semi-árido. Essa mesma praça antes nos presenteava com um bucólico coreto que, por diversas vezes, tínhamos a oportunidade ímpar de presenciar o tocar de uma banda. Esse coreto virou criatório de colibris, e o que se sabe é que foi desfeito e voltou a ser novamente um correto e que nos dias de hoje abriga mendigos ao anoitecer.
A cidade da arte e da cultura (eslogan do jornalista Reginauro Silva nos anos 1980), em uma época remota, com uma “administração positiva”, cismou de derrubar um marco quase que da fundação da cidade, que era o Mercado Municipal. Sentia a administração, naquele momento, que o prédio seria ameaça, podendo vir a ruir a qualquer momento. Ora, o prédio foi tombado não pelo patrimônio e sim pelas mãos inimigas da memória e da preservação.
Mas a cidade da cultura não para por aí. Conseguiram acabar com a casa do Bala na Rua Dona Eva, com o prédio de Oldemar Santos na Praça Dr. Chaves, ninguém sabe onde foi parar o antigo cassino, e as características do Clube Montes Claros.
Esta cidade permitiu que mãos assassinas derrubassem as palmeiras imperiais da Rua Dr. Veloso, as quais a natureza habilmente conservara por muito tempo. E, com isso, levaram junto o prédio do Hospital Santa Terezinha.
Mas a cidade da arte e da cultura é, mesmo assim, cheia de antagonismos, tais como Roxo-verde, aliás, moro naquele bairro. Tinha um jornal que não circulava diariamente, mas ostentava o nome de Diário de Montes Claros. Tem um jornal de notícias, mas qual não é de notícias? Tem um Monte Plano. A água vinha do Rio dos Porcos. Até as Três Pilastras só eram duas. Morrer não é bom, mas o cemitério é do Bonfim. Ah... o leite vinha Dos Bois e um rio de esgoto divide nossos melhores restaurantes, na Avenida Sanitária...
Por ser eclética, por tudo isto, Montes Claros se faz grande pelo seu ser tão sertão, pela sua graça, pelo seu povo, pela sua história, sua gente e seus costumes. Pela sua seresta.
Montes Claros, Amo-te muito!