Nesses dias tenho procurado expor os novos valores que dominam a política brasileira. São ideias cujo tempo certo chegou, para usar a expressão de Abraham Lincoln. O grande problema brasileiro é a falta de instituições que garantam a continuidade dessas novas ideias.
O primeiro problema sério é o Congresso e o modelo político. Ninguém sabe a rigor quem é seu representante no Congresso. Existem deputados bancados por empresas, por setores, grupos ou corporações. Essa pulverização é própria da Câmara.
O problema é o financiamento de campanha, que terminou por jogar nos braços dos grandes grupos a definição da lista de candidatos partidários (escolhe-se quem tem mais possibilidade de trazer financiamento). Ou seja, os agentes orquestradores das demandas deveriam ser os partidos políticos, definindo programas claros.
Esse modelo levou aos governos de coalizão e a crises institucionais periódicas, lembra o leitor Igor Cornelsen, que vão do suicídio de Vargas à renúncia de Jânio, ao golpe de 64, ao impeachment de Collor.
Outro ponto sensível é a questão do desenvolvimento. Na Ásia, o modelo econômico é o mesmo, com a busca da industrialização, do crescimento, da inovação, do emprego qualificado. Entra governo, sai governo, mantêm-se os mesmos valores.
No Brasil, depende do governo de plantão. FHC e o governo Lula (até a crise de 2008) vieram a reboque dos ventos internacionais. Só quando a crise internacional explodiu, o país conseguiu se livrar da inércia na política econômica.
Agora, tenta-se retomar o desenvolvimentismo, mas com enormes dificuldades em todas as áreas, em sistemas de controle, na mídia, nos setores ambientalistas, nas próprias empresas (muitas delas inconformadas com redução de margem). É só analisar o problema de definir um câmbio competitivo, dos custos do investimento e da falta de competitividade.
Não se trata, portanto, de um sentimento capaz de garantir o projeto de desenvolvimento independentemente do presidente do momento. A falta dessas ideias mobilizadoras torna o quadro político instável. Não existem partidos programáticos.
São duas realidades desafiadoras. Numa ponta, a Internet, avalanche de novas ideias que brota das discussões públicas nas redes sociais. Na outra, um aparato institucional anacrônico. Este será o desafio das próximas décadas: criar instituições dinâmicas para absorver o novo.
Luís Nassif - escreve no jornal Hoje em Dia
