A busca da cidadania

Jornal O Norte
Publicado em 23/02/2006 às 10:38.Atualizado em 15/11/2021 às 08:29.

José Geraldo Mendonça *



Eu começo parabenizando nossa querida deputada Elbe Brandão, pelos trabalhos desenvolvidos pela sua secretaria na busca de ações que levem cidadania às camadas mais desassistidas até então pelo poder público, que são aqueles que ainda vivem no campo. Projetos que realmente levam independência financeira às pessoas envolvidas. São vários projetos de sua pasta. Entretanto, eu vou focalizar esse que, no meu entender, é um dos mais importantes, porque beneficia as mulheres do campo que nunca foram lembradas em nenhum programa de governo. Eu falo da cozinha comunitária sertaneja, que tem a competente Íris Linhares como gerente.



- Ali, dezenas de mulheres de várias idades têm oportunidade de mostrar os seus dotes culinários...



Segundo ela, já foram instaladas 18 unidades em toda a área de abrangência da secretaria: Norte de Minas, Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Entretanto, a meta é instalar 100 unidades neste ano. Mas está esbarrando justamente onde não devia. Na falta de interesse dos prefeitos e seus assessores diretos, pela implantação do projeto. As unidades já instaladas beneficiam quase todos os habitantes daquelas comunidades onde já existe uma em operação. Eu destaco aqui a unidade de Mocambinho. Um senhor exemplo de projeto bem sucedido. Ali, dezenas de mulheres de várias idades têm oportunidade de mostrar os seus dotes culinários, produzindo vários tipos de alimento, que estão rendendo uma boa grana para cada uma delas.



Isso é resgate de cidadania. É dar a essas pessoas o direito e os meios para se sustentarem.



A secretaria extraordinária da nossa querida deputada tem verbas que custeiam vasilhames, máquinas e instalações. O que está acontecendo com a nossa secretaria municipal de Ação Social, que não está participando de nenhum desses projetos disponibilizados naquela secretaria? Montes Claros tem dezenas de povoados e pequenas aglomerações de habitantes na sua zona rural. É preciso acordarmos, minha gente. É preciso criarmos opções, levando melhorias àquela gente que vive no campo. É preciso criar opções de melhoria de vida para aquela gente, que possibilitem a elas viver melhor ali no campo, onde nasceram, têm nome de família, tradições, são gente.



Temos que evitar a qualquer custo a migração dessa gente aqui para a periferia da cidade. Aqui eles vão perder tudo que têm, até sua identidade. Aqui eles serão um zé ninguém. Porque a vida aqui é muito difícil. Aqui eles terão de pagar aluguel, pagar água, luz, comprar gás. E como eles não têm nenhuma qualificação profissional, não conseguem emprego. Vão acabar caindo na criminalidade. É uma derrocada total.



- Precisamos pensar em criar oportunidade para as pessoas que ainda vivem no campo



Precisamos pensar em criar oportunidade para as pessoas que ainda vivem no campo. Criar a maior número possível de projetos para beneficiar aquela gente. Do modo que está não dá para continuar.



É preciso levantar, sacudir a poeira e sair dessa mesmice, desse marasmo. Vamos pensar grande, e criar.



Áreas comunitárias de cultura para as pessoas que não têm onde plantar. Mais áreas completas com aparelhagem de irrigação, dotando as associações de cada localidade envolvida com carroças para coletar adubos nas fazendas da região, e tudo mais que é preciso para se produzir bem e com técnica. Para isso, manter um técnico agrícola residente em cada comunidade instalada, como funcionário da prefeitura.



Criar hortas comunitárias em cada comunidade rural. Instalar um técnico agrícola na comunidade. Adquirir caminhão de carroceria, adaptá-lo como caminhão missangueiro, previsto na lei de trânsito, para transportar as mercadorias e os produtores, todas as quartas-feiras para o Ceanorte, para comercializarem suas mercadorias, e levá-las  de volta aos seus locais de origem depois, com as suas tralhas: caixas vazias para embalar as mercadorias que virão nas próximas viagens.



Criar programas de criação de porcos, rústicos como Caruncho, Canastra e Piau - hoje quase extintos no país –, cabras para leite e corte, abelhas e galinha caipira de sangue azul.   



Criar cozinhas comunitárias sertanejas.



Cursos profissionalizantes de técnicas agrícolas e rurais para os filhos dos habitantes da zona rural. Mais cursos rápidos de fim de semana. Mais numa seqüência continuada de forma a dar assistência técnica e criando oportunidades para as pessoas envolvidas produzirem com distribuição de animais.



Clubes de mães equipados com todas as máquinas de costura e instalação completa, que possibilitem às mães envolvidas produzir alguma coisa que venha facilitar sua vida.



Casa de farinha. Mais: criar estrutura que possibilite aos produtores envolvidos plantarem cada dia mais, para produzir mais, e um produto cada dia melhor e personalizado para o comércio.



Criar a Casa da roça, onde os produtos dos diversos pontos do município sejam comercializados na cidade. Existem dois modelos de Casa da roça. O de Manhuaçi, que é uma casa mantida pela municipalidade, com um funcionário da prefeitura responsável pela comercialização dos diversos produtos e o repasse dos recursos obtido com a venda para os produtores.



- Existem centenas de experiências de gestões que ajudam os produtores rurais pelo país. E só copiá-las...



O segundo, de Paraguaçu, é aquele em que a municipalidade credencia um ou mais negociantes já estabelecidos para vender os produtos dos rurícolas. Nesse segundo modelo, os preços são previamente combinados com o produtor e, na hora do acerto, o negociante fica com 20% do valor conseguido com a negociação dos produtos, repassando os 80% restantes aos produtores.



Existem centenas de experiências de gestões que ajudam os produtores rurais pelo país. E só copiá-las ou criar alguma coisa nova. O campo é infinito.



Há muitas coisas que poderão ser realizadas pelas secretarias de ação social e agricultura do nosso município, que poderão ajudar aquela gente a viver muito melhor lá onde se encontra. A busca da cidadania é muito importante para o ser humano.



Eu parabenizo aqui a vereadora Fátima Pereira (PTB), pelo projeto que credencia os horticultores da periferia a receberem ajuda do governo. Eu elogio também e parabenizo a vereadora Dilene Dileu (PFL), pelo projeto apresentado e aprovado, de sua autoria, na câmara municipal de Governador Valadares, que inclui nos currículos escolares daquela cidade (escolas municipais) noções de cidadania: legislação de trânsito, estatuto da criança e adolescente, código do consumidor, conseqüência do uso do fumo, álcool, drogas e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, e vida sexual precoce.                 



Essas atitudes políticas é que dão prazer de se ler em um jornal.



Nós precisamos mudar urgentemente a nossa forma de enxergar as coisas, achando que tudo é obrigação do governo. Nós também somos responsáveis por tudo que acontece em nossa volta. Volto a dizer: este país só vai se desenvolver socialmente a partir do momento em que todos se engajarem nesse processo de forma ética, com muita responsabilidade social e espírito de cidadania.



* pesquisador e professor universitário


jmendoncajunior@uol.com.br

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