*Cláudia Gabriel
E quem disse que filme infantil é só pra criança? O último que vi me inspirou por causa de uma frase. Eram seis contos sobre príncipes e princesas em várias culturas. Numa das histórias desse teatro de sombras, pra se casar com a moça bonita, rica e ingênua, o candidato deveria invadir o castelo da bruxa. Foram várias tentativas, muitos homens envolvidos e todos vencidos pela violência, pela astúcia ou pelo cansaço. Quanto maior a força, maior era o impacto da resposta. Eles usaram postes, torres, centenas de braços e nada derrubou a fortaleza.
Enquanto isso, o mais inteligente observava tudo do alto de uma árvore. Quando todos desistiram, ele entrou em ação com a ideia que seria a mais impensável. Mas que também poderia ser óbvia. Conseguiu entrar sem nenhum esforço. Como? A bruxa explica na frase que me marcou: ele foi o único que bateu e pediu para ser recebido. A delicadeza derreteu as armas da mulher considerada tão ameaçadora. Ele entrou como convidado e não como invasor.
Na vida de adulto, quantas vezes, a gente não invade o castelo do outro porque não sabe separar os limites? Insiste, força, chuta a porta... Pode ser no amor ou na amizade. E pode ser sutilmente agressivo. A gente se apaixona por alguém e jura que vai convencê-lo a retribuir o sentimento. O outro quer ir embora. Você faz drama e chantagem pra que ele fique. Ser invasivo também é ser indiscreto, perguntar aquilo que a pessoa não quer ou não pode responder. E, mesmo que a intenção seja boa, a pressão faz a“bruxa” revidar com raiva. Ou se fechar ainda mais.
Quer muito algo? Sim, corra atrás! Mas comece pelo mais simples. Bata à porta e veja se há hospitalidade à sua espera. Se não houver, dificilmente, você vai conseguir pela brutalidade ou atropelando sentimentos. O filme que eu vi tão despretensiosamente me fez pensar que também forço limites. A persistência pode levar a isso. O melhor é usar a inteligência, a sensibilidade e a gentileza, como o nosso príncipe. A delicadeza abre portas surpreendentes. Nessa história, o mocinho ganhou a princesa, mas não quis. Foi tão bem recebido que preferiu ficar com a bruxa. Com todas as suas contradições, ela se mostrou bem mais interessante.