Rodinon Botelho dos Santos
“Então disse Jesus: vocês pensam que, se aqueles galileus morreram desse jeito, isso quer dizer que eles pecaram mais do que os outros?..” (Lc 13: 2)
O mundo inteiro contempla estarrecido as cenas terríveis que nos chegam do Haiti. Não há como ficar insensíveis, diante do quadro de morte, dor, escassez, desesperança e angústia no meio daquele povo, já profundamente marcado pela escassez de tantas coisas. È bastante comum, que em meio às tragédias que ocorrem com tanta assiduidade à nossa volta, muitos levantem a questão: POR QUE ? por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? existe uma razão por trás de tanta destruição provocada por fenômenos da natureza ? por que Deus não intervém em situações como estas?
No capítulo 9 do Evangelho de João, os discípulos de Jesus, que eram homens como nós, viram um homem cego na beira do caminho. Tudo indica que aquele homem estava em muito má situação. Carente e abandonado, vivendo sem dignidade, desprovido de esperança e então logo os discípulos perguntaram ao Senhor: - Mestre, quem pecou para que este homem nascesse cego? Ele ou seus pais? Eis aí a pergunta básica da humanidade: logo queremos encontrar um culpado, racionalizar uma resposta, acomodar-nos a um “carma”. Mas Jesus não deu a resposta que eles esperavam. Levou-os a uma outra perspectiva, outra maneira de encarar o sofrimento. Curou o cego e ensinou aos seus seguidores que – antes de tudo, nos importa perguntar o que podemos fazer em favor dos que se acham em sofrimento, pois assim, nos tornamos instrumentos para que de alguma forma a glória de Deus se manifeste em meio à tragédia e miséria humanas.
O Evangelho de Cristo nos ensina que, após a “queda” de nossos primeiros pais, uma vez promovida a rebeldia, desobediência e rejeição do governo de Deus sobre a vida humana, aconteceram ruptura espiritual, separação cósmica e contaminação da própria natureza, das coisas criadas. O homem tornou-se separado de Deus – causando o problema religioso, separado da natureza – problema ecológico, separado de si mesmo – problema psicológico, separado dos outros homens – problema sociológico e a própria terra se tornou um lugar difícil, inóspito, produzindo “cardos, abrolhos, desertos, tufões, maremotos, tsunamis, secas e devastação – inclusive como resultado da própria ganância, exploração e pecado humanos.
No texto do evangelho de Lucas cap. 13, o Senhor Jesus refuta a tese de que o sofrimento humano seja causado por um castigo de Deus. O Eterno Deus criador e mantenedor da vida é bondoso e cheio de misericórdia. Ele derrama sua chuva sobre maus e bons, justos e injustos. Ele provê semente, colheitas, plantas e animais para a alimentação do ser humano. O Sofrimento, neste contexto do mundo caído pode nos vir de várias fontes. Da maldade e violência dos tiranos ( Pilatos sacrificou os galileus por capricho pessoal); dos acidentes provocados pela negligência e imperícia dos homens (a torre de Siloé desabou e matou 18 inocentes (ver o texto de lucas 13). Pode também vir das forças incontroláveis da natureza, das armas de destruição criadas pelo ser humano, da pressa e desprezo pela vida (trânsito que mutila e mata), dos promotores da sedução e escravidão de seres humanos para ganhar dinheiro (álcool, cigarro, drogas, etc).
Enquanto aguardamos a promessa bíblica da restauração de todas as coisas, precisamos ser ativos e solidários nas ações de socorro, de mãos estendidas, de solidariedade, de amor prático. Ao invés de perguntar PORQUE? Devemos como cristãos engajados na construção de um mundo melhor, “arregaçar as mangas” e dispor nossos braços para a ajuda, a dádiva, a compaixão. Antes de tudo, o Senhor nos chamou a orar, a buscar Sua presença, a rogar pela conversão dos corações de homens e mulheres, chamados em Cristo ao amor e à paz. Homens e Mulheres renovados no poder do Espírito Santo, são instrumentos de Deus chamados de SAL DA TERRA e LUZ DO MUNDO. Graças ao Eterno que muitos deles já estão lá, de mãos dadas com o povo do Haiti.