*Manoel Hygino
O poeta vê a Copa. Aricy Curvello, mineiro de Uberlândia, residente à beira do mar no Espírito Santo, comenta a edição semanal da “France Football”, a maior publicação do esporte dito bretão em todo o planeta. A revista pode ser acessada em site, mas nesta edição apenas se vê a capa; a reportagem, de uma dúzia de páginas, não está liberada no Brasil.
Agora, a edição está de luto. A capa toda negra, nela se lê “Peur sur Le Monde”, isto é, o “Perigo sobre o mundial”, ou “O mundial do medo”.
Há a bandeira do Brasil e no dístico “Ordem e Progresso”, colocou-se uma tarja negra. O subtítulo é doloroso para os brasileiros: “Atingido por uma crise econômica e social, o Brasil está longe de ser aquele paraíso imaginado pela Fifa para organizar uma Copa do Mundo. A menos de cinco meses do mundial, o Brasil virou uma terrível fonte de angústia”.
Considerada a mais respeitada publicação de futebol do planeta, como enfatiza o celebrado poeta, bastaria lembrar que o prêmio “Ballon d’Or” foi por ela criado e a Fifa teve de pagar o patrocínio. Quando divulgou uma série de reportagens sobre o campeonato italiano de 2005/2006, as suas denúncias de corrupção resultaram na suspensão da competição e na queda de Havelange.
Dá imensa tristeza conhecer o texto, que nos expõe sob todos os aspectos. Começa por lembrar que a Fifa não pediu o Brasil para sediar a Copa, pois foi o Brasil que fez a proposta e pressionou para vê-la aprovada. Transcrevo afirmações da revista: A corrupção no Brasil é endêmica, do povo ao governo; a burocracia é cultural, tudo precisa ser carimbado, gerando milhões para os cartórios; tudo se desenvolve na base de propinas; o alto escalão do governo passado está preso por corrupção, mas há artistas e grande parte da população que ainda o julgam honesto, fazendo campanhas para recolher dinheiro para eles.
Como são 12 páginas de matéria, evidentemente não há espaço aqui senão para rápidos enfoques: Hoje, tudo que acontece de errado no Brasil é por culpa da Fifa, enquanto antes era dos Estados Unidos, já foi de Portugal e o brasileiro não tem culpa de nada. O brasileiro dá mais importância ao futebol do que à política: elege jogadores de futebol para cargos públicos, como Romário, ex-Barcelona, hoje deputado federal. Ele aproveita o descontentamento com a Copa para se autopromover, mas não apresentou até hoje um projeto de lei sobre saúde e educação. Sua meta é fornecer ingresso da Copa para pobres, como se esta fosse a prioridade de um pobre brasileiro.
O deputado mais votado do país é um palhaço analfabeto e banguela, que faz uma dança ridícula, com roupas igualmente ridículas, e seu bordão é: “Pior que está não fica”. Em uma das músicas desse engraçadinho, ele canta: “Ele é ladrão, mas é meu amigo”, que traduz bem o espírito do brasileiro.
E mais, muito mais: A carga tributária do Brasil é altíssima, maior que a da França, embora os serviços públicos sejam péssimos, comparáveis aos do Congo. Mas o brasileiro médio pensa que mora na Suíça. A presidente parece fora da realidade e diz que a Copa 2014 será o melhor Mundial de todos os tempos, ou seja, melhor que o do Japão, dos EUA, França e da Alemanha.
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