Um caso antes de noventa

22/05/2021 às 00:20.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:59

As memórias de Um Caso Antes de Noventa, do memorialista Antônio Augusto Teixeira (Niquinho Teixeira), têm raízes em Bom Jesus dos Meiras (hoje a cidade de Brumado – Bahia). O livro tem duas vertentes interessantes: os dados biográficos do autor e uma seleta de crônicas sobre a história do sertão norte-mineiro. A família “Meira” foi aquela que travou contendas com os “Canguçu” durante o episódio do Idílio de Pórcia e Leolino. Tenho esta história contada em livro. É muito bonita. Pórcia Carolina da Silva Castro era a irmã mais nova de dona Clélia Brasília da Silva Castro, a mãe do poeta Castro Alves.

Niquinho Teixeira nos conta que sua mãe, dona Geralcina Cândida de Souza Meira, nasceu em Bom Jesus dos Meiras, na Bahia, no ano de 1847, e depois emigrou para Minas Gerais. Assim, ele avisava: “Tocasse na Bahia, tanto assim, e ela vinha de lá com duas pedras nas mãos. Não admitia que se falasse mal da sua terra natal”. Aliás, essa doença “barrista” é de todos nós, os baianos. Nota-se que a narrativa dos fatos é repleta de detalhes, uma forma original de o autor expressar as suas lembranças, desde o tempo de infância até a fase adulta. No primeiro momento, as memórias são contadas sem entusiasmo, mas, no apego às dificuldades de vencer na vida, uma vez que o autor perdeu seu pai aos 13 anos de idade.

Menino levado, assim como eram todos os meninos do seu tempo. A necessidade de estudar na capital federal – então, o Rio de Janeiro – fê-lo viajar em companhia “de seu Camilo e do coronel Celestino. Eles iam para o Congresso e eu aproveitei a chance”. Nesta primeira parte do livro, o leitor pode perfeitamente se imiscuir como personagem desse livro, pois assim acontecia com todos aqueles que queriam estudar e vencer na vida. 

Na segunda parte do livro Um Caso Antes de Noventa, o autor resgata com muita propriedade alguns aspectos da história da região norte-mineira. Fala de Senhor do Bonfim (Bocaiúva), cidade em que nasceu; fala de Nossa Senhora Santana de Contendas (Brasília de Minas); de Montes Claros, onde residiu e trabalhou como farmacêutico. As crônicas são verdadeiras joias da nossa história política, econômica e social. A leitura desse livro nos traz as lembranças do nosso avô, sentado à beira de uma fogueira, queimando para se esquentar do frio, nos contando causos hilários e assombrosos. Aqui não é o caso, mas as aparências de quem conta histórias das lendas e das tradições de um povo tem no seu teor as mesmas características dos casos contados por Niquinho Teixeira em Um Caso Antes de Noventa.

Um Caso Antes de Noventa é título de um dos casos contados pelo autor. O mais interessante é que ele revela a origem do nome da cidade de Brasília de Minas. Segundo Niquinho, o cidadão Vicente Parrela Brasileiro, com a intenção de perpetuar o seu nome, sugeriu a mudança do nome de Contendas para o topônimo de Brasília. Mas, por solicitação do presidente Juscelino Kubitscheck – dizem – foi alterado o nome de Brasília para o de Brasília de Minas, ficando, então, o original para denominar a atual capital federal do Brasil. 

(*) Historiador

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