Papagaio conta a história

20/06/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:50

A grande novidade da obra da acadêmica Ivana Ferrante Rebello e Almeida é a construção de uma narrativa, em verso e prosa, na voz dos pássaros. A autora explora com muita propriedade a literatura natural das aves. Busca nas palmeiras de sua terra o doce canto de um belo sabiá-laranjeira. No poema “Canção do Exílio” ele inicia a sua obra “Papagaio Conta a História”, fazendo uma verdadeira excursão ao mundo do imaginário nas vozes dos pássaros. Na verdade, o seu livro é um estudo completo da literatura brasileira, tendo como partida o período do parnasiano para adentar-se no movimento da Semana da Arte Moderna de 1922, com as palavras de Mário de Andrade no romance “Macunaíma”.

Ivana Rebello é uma estudiosa natural da terra e de seus mistérios. Amante da arte literária de João Guimarães Rosa - Grande Sertão-Veredas - ela conta histórias onde o papagaio é venerado, lembrado nas algazarras e até mesmo recusado e esquecido nos momentos tenebrosos. Compara a autora, na sua obra, a figura do papagaio aos outros símbolos - Estados Unidos, a águia; o Chile, a condor e a França o galo - enquanto que o Brasil haveria de ostentar como símbolo nacional a figura do Zé Carioca. Um papagaio criado por Maurício para a alegria das criançadas.

Nota-se que, na dinâmica do trabalho de Ivana Rebello, as aves de nossa fauna são lembradas por Mário de Andrade (Macunaíma) e José de Alencar (Iracema). Entretanto, é o papagaio que mais se identifica com a brasilidade acadêmica. Mesmo nos momentos de entretenimentos as aventuras dos papagaios completam o cenário do sério e do hilário. No adágio do livro a autora confessa que “este trabalho é fruto de um exercício de escuta. Compilei e analisei as vozes de dois pássaros na literatura brasileira: o sabiá e o papagaio. (...) Feitas algumas aparas e ressalvas, resolvi publicar esses estudos que reaproximam as duas obras por uma perspectiva inédita”.

Na medida em que o leitor vai degustando o texto literário de “Papagaio Conta a História”, ele descobre outros autores amantes dos pássaros. Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Holanda com a música “Sabiá”. Por outro lado, os papagaios estão presentes na obra “Martim Cererê”, do poeta Cassiano Ricardo. Vejamos: “Depois acaba a missa/ e então os papagaios/ voltam, todos, pro mato/ já falando latim...”.

As referências bibliográficas são ricas e trazem para o conhecimento dos leitores o que de melhor tem a literatura brasileira no gênero. Ivana Rebello é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ocupando a Cadeira N. 56 que tem como patrono o saudoso João Luiz Machado Lafetá. Parabéns, Ivana, pelo seu excelente livro de pesquisa onde o “Papagaio Conta a História”.

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