O direito e o dever de criar imagens e fantasias com as palavras, ao longo do tempo, fizeram com que a literatura se enquadrasse nos paradigmas da literalidade, com textos clássicos, ou não, na construção de obras literárias. Mas nem sempre o entendimento dos leitores alcança o viés da escrita, pois é preciso que o mesmo se imiscua, verdadeiramente, nos contextos dos fatos. A história romanceada, ou o verso dissoluto da inspiração, fazem das mensagens inerentes aos dois uma ficção para o uso especial da língua. Vejamos: “A poesia e a prosa constituem os dois gêneros em que se fragmentam a produção literária. A poesia identifica-se por ser a expressão do ‘eu’ por meio da linguagem polivalente, ou seja, metafórica, enquanto a prosa distingue-se por colocar a tônica na apreensão do ‘não eu’, empregando a linguagem plurissignificativa”. É necessário ao poeta espaço, fôlego e liberdade no manejo das palavras, sem censura e sem constrangimento.
A Licença Poética é definida como sendo a “liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão”. Portanto, é preciso um entendimento absoluto das palavras nas construções dos textos. O não permitido nunca poderá sobrepor a fantasia, que certamente é algo da imaginação de quem produz versos ou prosa. Por outro lado, a figura poética é perfeitamente entendida pelos leitores, em especial para aqueles que têm o costume de ler. No início do século XVIII era comum o uso do simbolismo e da sátira nos poemas. Tudo era exposto por símbolos nas palavras e representava a nossa literatura com ou sem rebeldia da adolescência.
O erotismo veio facilitar a construção de poemas mais picantes. Entretanto, é bom lembrar que a pornografia não é poesia, senão um apelo para aqueles que não sabem rimar com aliteração e com a beleza do verso, pois as trovas e os textos mais expressivos do poema dependem de muita criatividade. A palavra de baixo calão, assim como o nu humano, não representa a arte. A liberdade do autor termina onde começa a liberdade do leitor. Infelizmente, nós, poetas mortais, somos mal interpretados nas nossas intenções ao fazer um verso de amor, ou mesmo um pequeno texto romântico, onde o amor é consagrado à revelia dos fatos. Não se pode admitir que a fantasia seja totalmente verdadeira e nem que a verdade, por sua vez, seja apenas um prenúncio para enaltecer o amor. O importante é o amor!