Mestre Zanza

30/10/2021 às 00:12.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:09

Montes Claros chora na despedida do mestre Zanza, o senhor João Pimenta dos Santos, num desenlace amargo e triste, assim como o rufar dos tambores em dias sombrios querendo dizer-lhe que a hora chegou. É verdade, chegou o momento de dizer adeus ao mestre Zanza. A sua missão, cá entre nós, está completa. 

Completa e acabada à maneira do sagrado Divino Espírito Santo, num voo livre, leve e solto, pelo espaço celestial como quem procura a plena felicidade no infinito dos céus. O mestre Zanza sabia que um dia este dia teria fim, entretanto as suas memórias, as suas lembranças, o seu legado cultural e a sua fé inabalável em Nossa Senhora do Rosário, todos esses emblemas divinizados nunca teriam o mesmo desfecho.

Montes Claros chora. O seu povo chora. Aliás todos choramos a partida do mestre dos catopês, da marujada e dos caboclinhos para a morada eterna do Senhor. Certamente as fitas coloridas continuarão a dançar pelos caminhos antigos da nossa cidade, sempre tremulando num aceno constante do adeus ao mestre, sem a doce magia dos tempos risonhos de quando os festejos abrilhantavam as ruas e praças de nossa comunidade, fazendo o burburinho alegre das manifestações religiosas de todos os anos. Sabemos perfeitamente que as Festas de Agosto nunca mais serão as mesmas, pois as nossas tradições e os nossos costumes agora estão órfãos do verdadeiro amor cristão.

Há de haver outros “zanzas” em Montes Claros para dar continuidade à nossa alegria de viver. A paixão desenfreada pelas Festas de Agosto, no ritmo, na dança, na musicalidade, na cantoria e no manejo dos instrumentos musicais faz o coração dos montes-clarenses vibrar no compasso do pandeiro e no batuque da caixa, em cada cortejo que passa. O mestre Zanza era o mestre dos mestres no comando das alegorias e das indumentárias de cada grupo. O seu amor pelos capacetes enfeitados de fitas coloridas e o seu galanteio de chitas e sedas na confecção das vestimentas, mostravam-nos até que ponto a sua dedicação pela tradição das festas era constante e sincera.

Hoje há em cada “poste” uma lembrança do mestre Zanza; em cada “rua” uma dádiva do seu amor, em cada “praça” uma benesse de sua bondosa alma e em cada “canto” o suave encanto dos seus cantos de tudo que é mais sagrado para o acalento de sua gente. Assim, o vento que antes ventava aqui não venta mais. Do mesmo modo, a pureza d’alma do mestre Zanza apenas resta na doce lembrança de cada momento, porque a festa agora está acontecendo num plano superior. Quiçá ao lado do saudoso marujo Anibal Carroceiro!

Montes Claros chora a despedida do mestre Zanza. É verdade! Os seus amigos, cônscios do fato inerente à morte, manifestam com pesar o decesso ocorrido no dia de hoje, suplicando um descanso feliz para o mestre Zanza, no reino dos céus. A “cidade da arte e da cultura” não pode deixar de manifestar neste abominoso ensejo de uma despedida, o amor que o povo montes-clarense tem dedicado as eclosões religiosas, pois acreditamos que as atitudes espontâneas e as palavras de carinho, no calor do momento, surgem para glorificar a memória da cultura popular na pessoa do Mestre Zanza. Benza Deus! 

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