Brejo dos Padres e o Hospício

09/10/2021 às 00:02.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:02

Decreto de expulsão dos Jesuítas por Marquês de Pombal a pedido de D. José I de Portugal, em 1759:

“Declaro os sobreditos regulares (…) rebeldes, traidores, adversários e agressores que estão contra a minha real pessoa e Estados, contra a paz pública dos meus reinos e domínios, e contra o bem comum dos meus fiéis vassalos (…) mandando que efetivamente sejam expulsos de todos os meus reinos e domínios”.

Com a divulgação deste Decreto de expulsão dos religiosos do solo brasileiro, na cidade de Salvador, os padres procuraram o interior baiano para se esconder. A pequenina vila do Príncipe de Santana de Caetité estava festejando os seus primeiros passos para a sua autonomia administrativa político-econômica e, em vista disso, ela foi escolhida pelos padres-jesuítas para ali refugiarem-se das tropas portuguesas. 

Na região de Caetité os lugares apontados foram: a fazenda Brejo dos Padres e a fazenda do Hospício, entre diferentes lugares de menor importância onde abrigaram diversos outros religiosos. Não se sabe a quantidade de padres que vieram para cá e nem há documentos comprobatórios dessa fantástica investida, haja vista que tudo aconteceu na surdina, sem qualquer comentário porque assim era necessário para garantir a permanência deles na região.

Para melhor entendimento do assunto, destacamos a Fazenda Brejo dos Padres, local escolhido para servir de esconderijo da cruel tropa lusitana. Ali, os padres criaram os currais de gado vacum e vasculharam as serras em busca do ouro e das pedras preciosas. Fizeram fortunas. De Caetité para a fazenda Brejo dos Padres era necessário transpor a serra do Refúgio, por uma trilha sinuosa e íngreme, fator este preponderante para garantir e salvaguardar os refugiados.

O nome “brejo” originou-se da Fazenda Real Brejo das Carnaíbas, de Pedro Leolino Mariz, que já existia e era considerada a mais produtiva do sertão bruto baiano. “Do Hospício ao Brejo das Carnaíbas do Mº. de Campo Pedro Leolino Mariz, aonde há roçaria e engenho de cana, há de estrada duas légoas e ½ e de distância duas; húa légoa de bom camº e passage o Rio das Rans, a outra legoa e ½ comº. De ladeyras, e a ultima a descer para o Rio, que se torna a passar, há bem alta mais terra vay o Rio aqui entre dous cordãos de serra como se vê”. (VIANNA, Urbino – Bandeiras e Sertanistas Baianos. Brasiliano. São Paulo. 1906).

A Fazenda do Hospício foi o outro local escolhido pelos padres à época da expulsão dos Jesuítas do Brasil, por Marquês de Pombal. Esta fazenda ficava no trajeto do caminho dos currais de gado ao longo do rio Carnaíba de Fora (Rio das Rans). Nota-se que no linguajar da época a palavra Hospício significava “posto de hospedagem”. Era o lugar onde os padres missionários vinham se recuperar do cansaço da missão de catequizar os índios. Entre a fazenda do Hospício e a vila de Caetité há uma serra de difícil transposição, com blocos de pedras e ladeiras íngremes. O melhor local para trespassar esta serra denomina-se de “Escadinha” e foi, por muito tempo, o trajeto da Estrada Real. 

No roteiro de Joaquim Quaresma Delgado, disse ele que de 1731 a 1734, a fazenda do Hospício já pertencia a dona Joana da Silva Guedes de Brito. Com o arrendamento das parcelas desta fazenda, a maior parte passou a ser administrada por Joaquim Xavier de Carvalho Cotrim. Portanto, a expulsão dos jesuítas do Brasil serviu para acelerar o desenvolvimento do sertão baiano com a criação de currais de gado e a exploração do ouro no alto das serras.

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