Trabalhar é preciso...

Luiz de Paula , escritor e empresário
Hoje em Dia - Belo Horizonte
21/06/2017 às 00:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:11

Se eu houvesse nascido rico, teria sido um desperdício.

Porque a idéia de riqueza jamais ocupou minha mente.

Aos 7 anos já ajudava meu pai, na venda. Aos 9 anos, em Montes Claros, comecei como engraxate.

Dava para as graxas e as tintas e para os cadernos da escola.

E para a coalhada no Bar do Sinval.

E para acompanhar os filmes seriados das sextas-feiras.

E deu muito mais. Deu para me acostumar a trabalhar e a ganhar dinheiro.

Depois foi o trabalho no balcão, na roça e na cidade. A dedicação ao trabalho no comércio.

Enquanto isso, o estudo à noite, e a formatura em contabilidade e direito.

Recordo-me que aos 21 anos, ao voltar da roça para Montes Claros, consegui uma vaga em um quartinho de 3 m x 3 m, com três camas.

Na rua do Pedregulho.

Sob o teto baixo, de meia água, de telhas comuns, havia um velho forro de pano, todo estufado e manchado pelas águas das goteiras e com três ou quatro buracos, por onde, à noite, nos espiavam os saruês que ali viviam e que, em suas brigas, acontecia de vez

em quando caírem sobre as camas.

Conforto?

Tínhamos “direito” a banho em água corrente, no rio Vieira, somente possível à noite.

Saltávamos a janela que dava para o pasto do senhorio.

Com o maior cuidado para não atrairmos a atenção de sua matilha de cachorros.

A atividade no comércio evoluiu para a indústria na condição de empregado, por muito tempo, e depois por conta própria.

Mais adiante, a abertura para a política, não desejada e felizmente por tempo limitado.

Vieram as eleições para vice-prefeito de Montes Claros.

Depois, para a Câmara Federal.

Foi uma abertura, como disse, não desejada nem procurada e que se encerrou em 1970.

Meu destino me conduzia sempre para a atividade empresarial.

Na indústria.

No ramo algodoeiro.

Da Usina de Beneficiamento de Algodão nasceu a motivação para a criação da Coteminas..

Pela mão velha do tempo estou chegando aos 90 anos.

Não fiquei rico.

De bens materiais, é claro.

Nasci pobre.

Na roça.

O trabalho proporcionou-me recurso para criar e educar 5 filhos.

Entre a caixa de engraxate e a Fábrica de Tecidos não houve grandes mudanças.

Os princípios foram sempre os mesmos.

Trabalhar bem.

Com dedicação e economia.

E reinvestir os ganhos.

Com prudência.

  

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