Se eu houvesse nascido rico, teria sido um desperdício.
Porque a idéia de riqueza jamais ocupou minha mente.
Aos 7 anos já ajudava meu pai, na venda. Aos 9 anos, em Montes Claros, comecei como engraxate.
Dava para as graxas e as tintas e para os cadernos da escola.
E para a coalhada no Bar do Sinval.
E para acompanhar os filmes seriados das sextas-feiras.
E deu muito mais. Deu para me acostumar a trabalhar e a ganhar dinheiro.
Depois foi o trabalho no balcão, na roça e na cidade. A dedicação ao trabalho no comércio.
Enquanto isso, o estudo à noite, e a formatura em contabilidade e direito.
Recordo-me que aos 21 anos, ao voltar da roça para Montes Claros, consegui uma vaga em um quartinho de 3 m x 3 m, com três camas.
Na rua do Pedregulho.
Sob o teto baixo, de meia água, de telhas comuns, havia um velho forro de pano, todo estufado e manchado pelas águas das goteiras e com três ou quatro buracos, por onde, à noite, nos espiavam os saruês que ali viviam e que, em suas brigas, acontecia de vez
em quando caírem sobre as camas.
Conforto?
Tínhamos “direito” a banho em água corrente, no rio Vieira, somente possível à noite.
Saltávamos a janela que dava para o pasto do senhorio.
Com o maior cuidado para não atrairmos a atenção de sua matilha de cachorros.
A atividade no comércio evoluiu para a indústria na condição de empregado, por muito tempo, e depois por conta própria.
Mais adiante, a abertura para a política, não desejada e felizmente por tempo limitado.
Vieram as eleições para vice-prefeito de Montes Claros.
Depois, para a Câmara Federal.
Foi uma abertura, como disse, não desejada nem procurada e que se encerrou em 1970.
Meu destino me conduzia sempre para a atividade empresarial.
Na indústria.
No ramo algodoeiro.
Da Usina de Beneficiamento de Algodão nasceu a motivação para a criação da Coteminas..
Pela mão velha do tempo estou chegando aos 90 anos.
Não fiquei rico.
De bens materiais, é claro.
Nasci pobre.
Na roça.
O trabalho proporcionou-me recurso para criar e educar 5 filhos.
Entre a caixa de engraxate e a Fábrica de Tecidos não houve grandes mudanças.
Os princípios foram sempre os mesmos.
Trabalhar bem.
Com dedicação e economia.
E reinvestir os ganhos.
Com prudência.