Palavrão não é inconstitucionalissimamente...

Mara Narciso
13/06/2017 às 00:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:03

A invencionice vinda de cima não costuma durar muito quando se trata de criar palavras e expressões.

Ouvem-se frases absurdas. Caso não exista uma palavra exata nem inexata, inventa-se uma, e acabam por “barbarizar” o Português.

Os jornalistas, por ofício, tentando traduzir o mundo para quem os assistem, falam jargões técnicos durante suas intervenções, especialmente no atual noticiário traumático de recorrência de delitos.

Nos julgamentos do STF – Supremo Tribunal Federal, os telespectadores habituaram-se a palavras antes estranhas, como dar vistas ao processo, alegações, tratativas, mérito.

Vão absorvendo a novidade sem saber ao certo do que se trata, e algumas vezes até as repetem.

A tensão verbal entre suas excelências agrada aos próprios que se exibem para o Brasil, amando os holofotes e, usando do esnobismo, um deles evita “ponto crucial” e diz “ponto fulcral”.

Funciona mal fora do meio, mas impressiona.

Os estrangeirismos entram tão fácil que nem imaginamos o que fazer para colocar algo no lugar de marqueteiro, deletar, inbox, site. Nem adianta falar sítio, que soa mais estranho do que inconstitucionalissimamente, palavra de 28 letras, que meu pai Alcides Alves da Cruz achava ser a maior delas.

Também há oftalmotorrinolaringologista, do mesmo tamanho, mas a maior de todas é a pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiotico, de 46 letras, registrada pelo Dicionário Houaiss em 2001. É doença cujo nome nem é tão difícil assim de decorar, pois se trata de palavras médicas conhecidas, escritas em sequência. Basta falar uma meia dúzia de vezes.

Talvez um pouco mais.

Há as engraçadinhas como “sofrência”, que são faladas com naturalidade, por se divertir com o sentimento alheio dos apaixonados e dos amantes abandonados.

O empreendedorismo, campeão em se ajustar a novas palavras, tem por função instigar e fomentar, e para ter sucesso bastam força de vontade, foco, coragem e determinação.

Quanta ingenuidade!

Avisaram isso à equipe econômica?

Subir na vida sem esforço é ser alpinista social, algumas vezes golpista/ estelionatário.

Cometo injustiça nesse pré-julgamento generalizante?

Velhas palavras com novos significados como acordar, no lugar de fazer acordo, entala no ouvido.

Para quê?

Os novos sentidos são agressões à Língua Pátria. Sem contar o corporativismo inventando palavras a partir de substantivos, ferindo mentes com verbos horríveis como elencar e alavancar.

Fica difícil escolher dentre as mais feias, a pior.

Senhoras e senhores façam suas apostas, votem e escolham entre duas monstruosidades: coisificar e precificar, usadas nesses tempos de crise.

Camões, por favor, salve-nos!

*Médica/jornalista

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