Pagar dívidas para resguardar o nome

Mara Narciso, médica e jornalista
11/09/2017 às 23:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:31

As pessoas mais simples acreditam – e estão certas - de que o bem maior que possuem é o nome. Tal declaração surge com frequência em entrevistas sobre endividamento, quando se vê homem ou mulher, especialmente os mais velhos, confessarem seus erros e inabilidades em gerir parcos recursos, algumas vezes dissolvidos por filhos e netos. Falam de empréstimos consignados, compras de objetos para os mais novos, algumas vezes consumos singelos, mas que não cabem em seus orçamentos, cheios de doenças e remédios.

Há os descontrolados, de todas as idades, que simplesmente estouram tudo que lhes chegam às mãos, mas esses que trago são os sérios. Estão envergonhados, cabisbaixos, humilhados pelo erro e pela pobreza. Repetem que irão pagar o que devem para recuperar o crédito e limpar o nome, afinal, é o que têm de mais valioso.

Por trás dessa revelação para as câmeras, fazem seu “mea culpa”, quase uma expiação, que antigamente, diante do padre tinha efeito de purificação. É possível acreditar em suas dificuldades de administração. Parecem frágeis, desconfortáveis, algo ingênuos, enquanto as entidades financeiras mostram-se gananciosas, mercenárias, inescrupulosas. A vergonha vem da sinceridade, de ter aprendido a evitar erros, a não mentir, a não gastar mais do que têm, pois ser pego em flagrante delito é inadmissível, fazendo-os sentirem-se mal diante de uma correção pública. Muitos sinceros estão assim, acabrunhados.

Antigamente a palavra bastava. Ou o fio de bigode, entre homens, obviamente, pois quando foi criado o ditado, as mulheres não saíam da cozinha. Hoje, mesmo depois de contratos assinados, o pagamento não é cumprido, e a pessoa se vê numa situação vexatória, posando de irresponsável, circunstância que algumas vezes não é sua culpa, mas é da sua responsabilidade. Emprestam o nome a parentes e amigos e quando se assustam o mal está feito.

A pessoa que não costuma mentir e não se habituou a inventar histórias se sente indignada quando duvidam dela. Ser desacreditada é ferimento de morte. Assim como o nome social com o qual se tem de conviver até o fim (salvo em casos excepcionais) sendo-se chamado e identificado por ele, também a credibilidade é apenas uma. Rompidos que sejam, é para nunca mais, ainda que os poderosos, nos tempos atuais ignorem esse fato.

Zelar pelo nome e reputação é uma construção constante, feita com o tijolo de cada dia. Precisa de boa argamassa e boa vivência, para não ser frágil. Como dizia o meu amigo e eterno professor de física Afonso Celso Guimarães: não há corrente mais forte do que seu elo mais fraco.

Que se possam minimizar as fraquezas e amplificar a força. Falar a verdade, ser pessoa confiável, de apenas uma palavra e de apenas uma cara, é um grande bem que se reflete no próprio nome. Seguir as normas sociais é um dever, assim como não mentir. As nossas mães e professoras ensinaram isso, e praticar tal preceito é cuidar da memória delas. Ainda que até mesmo o óbvio, pasmem, possa ser uma grande mentira.

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